Andrea Ladislau

Simone Biles: Saúde mental e alta performance

Atleta foi ovacionada em seu retorno às competições após dois anos sabáticos para cuidar de sua saúde mental

Dois anos depois de se retirar das competições, a atleta Simone Biles voltou diferente. Mais madura e agora casada, a ginasta mostrou que o investimento em sua saúde mental lhe ensinou que, com um passo de cada vez, chega-se novamente aos pódios. No Campeonato Mundial de Ginástica Artística, em Antuérpia, na Bélgica, Biles mostrou novamente que é diferenciada ao homologar um novo salto no código de pontuação: um Yurchenko com duplo mortal carpado que agora é o salto mais difícil da ginástica artística feminina. 

O feito alcançado no último fim de semana chama atenção após a atleta declarar em uma entrevista que sofre com TDAH e que aprendeu a não ter medo de ser julgada por expor sua condição mental. Em 2021, durante os Jogos Olímpicos de Tóquio,  a atleta abandonou a final por equipes da ginástica artística, mesmo sendo uma das favoritas à medalha de ouro, deixando em aberto sua presença na decisão. Naquele momento, Biles declarou: “Eu apenas não queria continuar. Não houve lesão, mas sim um pouco de orgulho ferido por uma prova ruim e um tanto mais de cuidado com a minha saúde mental”.

Agora, dois anos depois, mais segura e equilibrada, ela admitiu estar muito orgulhosa de sua performance aqui, além de ter voltado a fazer o que ama e de uma forma confortável. Seus resultados atuais reforçam que não adianta estar 100% preparado fisicamente se a mente não estiver equilibrada e saudável. A saúde mental precisa estar em dia, do contrário, a performance do atleta estará comprometida. Estamos lidando com seres humanos e não máquinas preparadas apenas para conquistar títulos.

Quem está preparado para a frustração?

Somos seres individuais, cada um irá reagir e responder de forma única a cada desafio que surgir. Inclusive, alguns competidores até preferem vivenciar situações de pressão, por se sentirem ainda mais motivados, enquanto outros entendem que tanto a pressão quanto a ansiedade são grandes vilões do seu desempenho pessoal.

Em uma competição, é inevitável que a tensão e pressão atinjam níveis surreais para o atleta que vem se preparando há alguns anos para conquistar resultados positivos e levar medalhas para seu país. A grande questão é: será que estes atletas estão mesmo sendo preparados de forma adequada para esse turbilhão emocional que vai da euforia (quando a medalha chega)  à frustração e tristeza (quando a medalha não vem)? Estão preparados para as perdas?

O emocional saudável do competidor também é fundamental para que, nos momentos mais decisivos, ele consiga se sentir seguro e preparado psicologicamente para trabalhar questões internas que influenciam no seu alto rendimento e no desempenho esperado por todos. Neste rol de dores emocionais, entram: a insegurança, o estresse, a ansiedade, a frustração, o pânico, a exaustão, os distúrbios alimentares, a insônia, as mudanças bruscas de humor, falta de autoconfiança, falta de autocontrole, falta de concentração, falta de motivação e a saudade pelo distanciamento da família, dos amigos e a geração infinita de expectativas, além do medo do monstro impiedoso do fracasso.

A performance ideal do atleta, segundo especialistas do esporte e da saúde mental, passa por uma equação que contempla motivação, autoconfiança, autocontrole, concentração, foco e suporte emocional adequado para gerir emoções e administrar as frustrações, comuns em um ambiente competitivo. 

Saúde mental para performar na vida!

A preparação física deve andar de mãos dadas com a preparação mental, desde o primeiro momento em que o indivíduo opta por participar de eventos esportivos, para evitar adoecimentos psíquicos que geram sofrimento por ansiedade, surgimento de distúrbios alimentares, transtornos depressivos, transtornos de estresse pós-traumático, devastação da autoestima ou até mesmo pensamentos suicidas.

O desabafo da ginasta Simone Biles sobre suas dores emocionais não pode passar despercebido. Que sirva de lição e exemplo para que outros percam o medo de encarar doenças psíquicas e buscar autocuidado e orientação médica. A conexão mente-físico e a valorização do modo de gerir emoções, estruturas mentais e comportamentais é a mola mestra para uma compreensão correta da prevenção do adoecimento emocional do indivíduo, seja ele um competidor ou não. 

Afinal, por trás de cada atleta existe um indivíduo único que busca no esporte a superação de seus limites e a vitória como recompensa pelo seu desempenho, porém essa busca deve ser melhor trabalhada, considerando a saúde mental de cada um.   

Se você tem buscado performar com excelência e compreendeu que o caminho para melhores resultados passa pela saúde mental, entre em contato e vamos conversar. Eu posso te ajudar a encontrar ou construir a sua melhor versão.                                      

Dra. Andrea Ladislau  /  Psicanalista