Andrea Ladislau

Quando a solidão chega a doer

Vivemos tempos de grandes conexões virtuais e solidões profundas. Descubra como a psicanálise pode auxiliar na compreensão da solidão.

“Me sinto tão sozinho, que chega a doer”. Uma frase de impacto, que pode revelar a cruel realidade de muitas pessoas hoje que sofrem com a solidão. Alguns relatos dão conta de que a dor é tão intensa e insustentável que quase chega a ser física. Uma verdadeira incoerência em meio ao crescimento populacional e a vida atribulada que vivemos.

A verdade é que o ser humano está cada vez mais solitário e fechado em seu mundo particular. Um cenário que preocupa, pois, pode agravar diversos problemas de saúde, desencadeando síndromes, transtornos e outras questões de cunho psicológico e fisiológico.

Viver rodeado de pessoas, agitado por inúmeras tarefas, não é sinônimo de que a pessoa não se sente, no fim das contas, solitária. Essa é, inclusive, a principal queixa de muitos: “mesmo me relacionando com muitas pessoas, tenho sempre a sensação de estar só”. Isso ocorre, pois os sentimentos de angústia e depressão tendem a acompanhar e alimentar a sensação de solidão. O solitário enxerga negatividade nas relações, e esse sentimento pode ser contagioso.

Onde começa a solidão?

A maioria dessas pessoas talvez não seja solitária por natureza, mas sente-se socialmente isolada, embora esteja cercada de gente. O sentimento de solidão, no começo, faz com que a pessoa tente estabelecer relações com outras, mas, com o tempo, a solidão pode acabar em reclusão, porque parece uma alternativa melhor que a dor, a rejeição, a traição ou a vergonha. Quando a solidão se torna crônica, as pessoas tendem a se resignar. Podem ter família, amigos ou um grande círculo de seguidores nas redes sociais, mas não se sentem verdadeiramente em sintonia com ninguém.

O motivo é que, quando o cérebro entende o seu entorno social como algo hostil e pouco seguro, permanece constantemente em alerta. E as respostas do cérebro solitário podem funcionar para a sobrevivência imediata. Os familiares e amigos geralmente são os primeiros a detectarem os sintomas de solidão crônica.

Quando uma pessoa está triste e irritável, talvez esteja pedindo, em silêncio, que alguém a ajude e se conecte com ela. A paciência, a empatia, o apoio de amigos e familiares, tudo isso pode fazer com que seja mais fácil recuperar a confiança e os vínculos e, por fim, reduzir os efeitos da solidão crônica.

Porém, para muitos, falar com sinceridade sobre a solidão continua sendo difícil, porque é uma condição mal compreendida e estigmatizada. No entanto, dada sua frequência e suas repercussões na saúde, é preciso mais informação a respeito, acolhimento para identificá-la e abordá-la, com empatia e carinho.  

Existe benefício na solidão?

A solidão só traz benefícios quando não é exagerada e constante, visto que todos nós precisamos de momentos de reflexão interna e afastamentos momentâneos para encontrar nosso eixo e continuar nossa trajetória. Mas o alerta precisa ser acionado se essa prática acontece com frequência, intensamente e em detrimento das relações interpessoais.

Infelizmente, muitas são as pessoas que vivem a dor da solidão e que acabam por exemplo, aproveitando a evolução tecnológica como um refúgio relativamente seguro para se relacionar com os outros. No entanto, sabemos que o ambiente virtual não se apresenta tão seguro assim. Além disso, uma conexão pela internet não substitui uma conexão real. 

Por fim, quanto mais conectados com o virtual, mais precisamos buscar nos conectar com as pessoas próximas, pessoas que nos querem bem e que nos transmitem calma. Isolar-se só fará com que o indivíduo esteja mais propenso a desenvolver sintomas e patologias psicológicas que irão contribuir para o prejuízo psíquico de sua saúde mental.

Se você tem sofrido com a solidão, envie uma mensagem para o WhatsApp (21) 97023 – 8669 e vamos conversar. Se precisar de ajuda, conte comigo!

Dra. Andrea Ladislau / Psicanalista