Andrea Ladislau

Whindersson Nunes: saúde mental e internação psiquiátrica

A coragem de buscar ajuda e o enfrentamento do tabu

De que a pressão da fama e as exigências de uma carreira artística podem impactar a saúde mental dos artistas, não temos dúvida. O excesso de exposição, a vida atribulada por muitas tarefas e compromissos, a negligência com horários e alimentação, entre outros fatores, contribuem para o adoecimento psíquico dessa classe e reforça a necessidade de derrubar tabus e preconceitos, além de desmistificar os cuidados com a saúde mental. 

Esse tema ganhou ainda mais evidência nesta semana, quando o comediante Whindersson Nunes precisou se internar em uma clínica psiquiátrica para cuidar de uma depressão e ansiedade que o acompanham há alguns anos.

A influência da fama na saúde mental

Piauiense de 30 anos, Whindersson chama a atenção pela idade. Tão jovem e com sérios problemas depressivos. Sabemos que a depressão é uma doença que pode atingir pessoas de qualquer idade e, segundo os dados, o número de internações de adolescentes por estresse, depressão e ansiedade cresceu 136% nos últimos 10 anos. Uma grave e triste constatação que nos faz voltar o olhar para vários aspectos. 

O primeiro deles é entender as influências da fama no equilíbrio emocional das pessoas. Para a grande maioria dos indivíduos, ter fama é um sonho a ser alcançado. Porém, são muitos os desafios emocionais e psicológicos de quem trilha o caminho em busca do sucesso. 

Essa, muitas vezes, insana e intensa exposição pública pode potencializar transtornos e sintomas depressivos e ansiosos, por conta da pressão constante, das críticas e cobranças diárias que exigem uma postura que confronta a vulnerabilidade emocional de quem já possui algum tipo de desequilíbrio.

A exaustão mental e a necessidade de internação psiquiátrica

A exaustão mental, o cansaço físico por sacrificar noites de sono em função de rotinas atribuladas de compromissos e a cobrança por manter a fama são alguns dos fatores que elevam o esgotamento e reforçam a discussão da necessidade de uma internação psiquiátrica para aqueles que enfrentam transtornos mentais, pelo fato de que a profissão passou a ser um fardo pesado. 

O autocuidado, as pausas necessárias para descanso e resgate da energia, além de atividades físicas recorrentes, tratamento psicoterápico contínuo, bem como o trabalho psicológico para aprender a lidar com as críticas, os julgamentos e o excesso de cobranças são medidas fundamentais para encarar a carreira artística como uma atividade laboral saudável e menos tóxica.

A coragem de buscar ajuda e o enfrentamento do tabu

O que chama a atenção no caso do comediante é a coragem por buscar uma internação psiquiátrica para enfrentar os impactos dos transtornos mentais, os quais ele já vem enfrentando há bastante tempo. 

O tabu e o preconceito que rondam o tema ainda são fantasmas que assombram as pessoas que sabem que precisam de um apoio especializado, porém, por medo de se expor ou assumir suas fragilidades, rotulando negativamente a carreira, negam e fogem dos serviços psiquiátricos disponíveis em todo o país. Portanto, fato é que a saúde mental, seja de um artista ou não, deve ser sempre uma prioridade do cuidado.

A importância do suporte emocional e da conscientização

Enfim, o glamour da fama é positivo desde que o sucesso e o reconhecimento não sejam as únicas prevalências do artista. Muitos são os desafios da profissão, e a internação psiquiátrica de Whindersson fortalece a necessidade de conscientização de que um suporte emocional adequado, uma rede de apoio presente, a terapia contínua e a busca pelo equilíbrio emocional podem ajudar a desmistificar o tema, bem como provocar mais discussões na sociedade, fornecendo evidências concretas de que, independentemente do status social ou profissional, saúde mental é imprescindível para construir a conexão perfeita e saudável entre corpo e mente.

Dra. Andrea Ladislau 

Psicanalista