Andrea Ladislau

Sequelas emocionais da Síndrome pós-Covid

A doença emergente, que também é conhecida como Covid longa, demanda atenção e cuidados com a saúde mental

Viver o medo, as dores e a insegurança após a testagem positiva do novo coronavírus não é nada fácil. A mistura de emoções e sintomas físicos, naturalmente, pode apontar manifestações emocionais desgastantes no paciente.

No entanto, muitas pessoas estão enfrentando uma situação ainda mais inusitada: apesar de cumprirem o período de repouso e isolamento, receberem a administração medicamentosa adequada à intensidade de seu quadro clínico e seguirem as orientações médicas para a eficácia do tratamento, estão tendo que conviver com um conjunto de sintomas, alguns até persistentes.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) observou que a maioria dos pacientes que sofrem de Covid-19 se recupera totalmente, embora alguns sofram “efeitos de longo prazo em vários sistemas do corpo, incluindo os sistemas pulmonar, cardiovascular e nervoso, além de efeitos psicológicos”. A definição clínica para esse quadro é chamada de Síndrome pós-Covid ou Covid longa.

Covid x bem-estar mental

Cada vez mais frequentes, os relatos apontam que além de um cansaço intenso, dores musculares, cefaleias, entre outros sintomas físicos, parte dos pacientes “recuperados” da Covid-19 também podem desenvolver sequelas emocionais importantes que afetam a saúde mental e transformam o seu cotidiano.

Dois anos após o surgimento do primeiro caso de infectado pelo coronavírus, estudos demonstram que cerca de 80% dos pacientes em recuperação apresentam aspectos associados à Covid prolongada. Visto que, a conexão corpo e mente é muito perceptível, ocorre que, ao se ver, de certa forma, ainda preso por tanto tempo aos efeitos do vírus, a tendência é que sintomas como ansiedade, medo, irritabilidade, alterações de humor, alterações de apetite, fadiga emocional, desânimo e depressão provoquem ainda mais instabilidade nesse indivíduo.

O que se observa de fato é que, na grande maioria dos casos da Covid prolongada, as sequelas psicológicas estão ancoradas na angústia e no fato de que o paciente experimenta o medo e a insegurança por ainda estar vivendo o pesadelo da contaminação por um vírus invisível e altamente nocivo. Além disso, um outro fator contribuinte é o próprio período de isolamento que mexe com as estruturas emocionais do infectado.

Com o sistema psíquico em desequilíbrio, o indivíduo tende a potencializar as dores físicas, além de ativar gatilhos de ansiedade e pânico. Isso acontece porque vivemos movidos pela necessidade em ter o controle das situações nas mãos, um sentimento intrínseco à nossa espécie. Porém, tudo o que é externo e nos foge ao controle, gera insegurança e medo e nos faz sentir vulneráveis. Além disso, a dor e o sofrimento favorecem a perda da capacidade de aceitação dos desafios. Fato que, na mente do recuperado, pode contribuir ainda mais para provocar conflitos, uma vez que o que se espera após um tratamento adequado é a recuperação de 100% da saúde física e da estabilidade emocional do paciente. No entanto, a realidade não tem sido essa.

Aspectos psicológicos da Síndrome pós-Covid

A vida pós-Covid é foco de estudos e acompanhamento específico de grupos multidisciplinares da saúde. Lembrando que não existe uma regra para a prevalência ou surgimento de sintomas, cada pessoa vai reagir de uma maneira, seja durante a recuperação ou após o período de tratamento, podendo, ainda,  apresentar sintomas mais leves ou mais graves da doença.

É importante estar atento aos sintomas emocionais mesmo após o período de recuperação, pois manter a saúde mental harmonizada contribui para aumentar e controlar os níveis de imunidade, reduzir os impactos físicos, além de promover a sensação de bem-estar que o indivíduo precisa para valorizar cada detalhe de seu cotidiano.

Enfim, as sequelas da Covid prolongada ou Síndrome pós-Covid, seja qual classificação for, refletem os impactos negativos na recuperação de muitas pessoas que sofrem por terem sido infectadas. E ainda existe um outro agravante: pacientes que já apresentavam quadros de transtornos mentais podem ter esses quadros psíquicos aumentados.

Além disso, o abalo psicológico tende a tornar esse indivíduo ainda mais vulnerável frente à necessidade da retomada de atividades cotidianas, limitando suas ações e potencializando respostas negativas ao aparelho inconsciente. Diante desse cenário, reforça-se o fato de que a saúde mental precisa e merece atenção.

A busca de apoio e acompanhamento de um profissional especializado é fundamental, uma vez que os reflexos da contaminação comprometem a qualidade de vida do recuperado e deixa evidente que não são apenas sintomas físicos que perduram após a recuperação.

Dra. Andréa Ladislau.

Psicanalista.

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