Andrea Ladislau

Seu filho está viciado em jogos?

Como a notícia de uma tragédia relacionada ao vício em games alerta para os perigos que os responsáveis devem estar atentos

E mais um caso triste de tragédia relacionada à dependência por games (vício em jogos) vem à tona. Um jovem de 13 anos matou a mãe e o irmão de 7 anos após uma discussão por suas notas baixas e sua fixação pelos jogos on-line. A tragédia se deu em João Pessoa, na Paraíba, mas poderia ter sido em qualquer local do mundo, pois a recorrência de situações como essa mostra que a coisa é bem séria.

Desde o início deste ano, o CID 11 — Classificação Internacional de doenças, traz, oficialmente, o fato como um transtorno de cunho mental e emocional. Para a OMS, essa classificação do transtorno dos jogos eletrônicos como uma doença levanta o alerta sobre as consequências físicas e emocionais do tempo excessivo gasto em games, principalmente entre os jovens. Denominado como “Gaming Disorder” ou “Transtorno de Games”, é um tipo de distúrbio de descontrole dos impulsos com um forte componente de ansiedade generalizada. Ou seja, um padrão de comportamento no qual a necessidade de jogar prevalece frente a outros interesses vitais na vida da pessoa acometida pelo transtorno.

Esse é um assunto que preocupa pais e responsáveis e também gera dúvidas na hora de distinguir quando um simples lazer se transforma em um problema que deve ser levado a sério. A doença foi catalogada levando-se em consideração alguns critérios primordiais para que seja configurada como um distúrbio mental, por exemplo: a intensidade, frequência e duração do tempo de utilização dos games é um fator determinante para fechar um diagnóstico. O indivíduo se sente incapaz de controlar ou de colocar um limite no tempo em que realiza a atividade. Além disso, o jogo passa a ser sua prioridade em detrimento dos interesses vitais, como comer, dormir, descansar,  socializar, trabalho, estudo, sua higiene, dentre outras rotinas cotidianas. Ou seja, o hábito altera o estado neurológico da pessoa, provocando o domínio do pensamento e intensificando o vício e a dependência pelos games.

Prováveis causas do vício em jogos

As causas podem ser diversas e subjetivas, pois podem estar ligadas a uma fuga da realidade, carência afetiva, necessidade de se desafiar a todo instante, procrastinação, baixa autoestima, dificuldades de autocontrole, impulsividade, deficiência comunicativa, déficit do manejo emocional, timidez em excesso, depressão, ansiedade, prejuízos cognitivos, dificuldade no gerenciamento das emoções, entre outros. E assim como todo tipo de vício (drogas, alcoolismo, tabagismos, sexo, compras etc.), o fator “recompensa cerebral” provoca motivações para permanecer no vício.

Assim como em casos de dependência química ou de vício em jogos não eletrônicos, a “gaming disorder” provoca uma sensação de perda de liberdade, já que a pessoa não sente mais vontade de jogar porque quer, mas por se sentir na obrigação de fazê-lo, mesmo que isso cause problemas à vida familiar, social e profissional.

Como a maioria dos casos de “gaming disorder” envolve adolescentes, a família assume um papel fundamental para o seu tratamento e recuperação. Primeiramente, é preciso que os familiares estejam atentos aos sinais manifestados. Caso os pais suspeitem do vício, devem conversar com o filho e propor mudanças em seu comportamento, principalmente quando o abuso ainda for leve.

Lamento que mais uma tragédia tenha sido causada por um transtorno mental. São sempre tristes os casos como a tragédia da Paraíba. O que nos motiva a continuar falando cada vez mais no assunto é que esse transtorno tem cura! É preciso buscar ajuda de um profissional de saúde mental, promover o autocuidado e, com cautela, monitorar o contato com os jogos. Se você sofre ou conhece alguém que sofre de compulsão por games, agende sua consulta comigo pelo número (21) 97023-8669.

Dra. Andréa Ladislau   /  Psicanalista.

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