Entenda a importância do setembro amarelo para discussões sobre suicídio e saúde mental
Neste mês de setembro, temos a campanha do Setembro Amarelo, que é voltada para a prevenção do suicídio. Muito se fala sobre esse tema, mas quais são as reais implicações? De que forma podemos ajudar um potencial suicida? Como perceber atitudes que podem culminar nessa tragédia? Qual a faixa etária e gêneros mais afetados?
É importante começar deixando claro que a prevenção do suicídio deve ser feita ao longo de todo o ano. Devemos nos preocupar com essa questão todos os dias, não apenas no setembro amarelo. O nosso olhar deve estar sempre voltado para qualquer sintoma característico de um possível suicida. Dito isso, vamos ao conteúdo.
Entenda os dados
Sabemos que, no Brasil, a taxa de crescimento de casos de suicídio na faixa etária de 10 a 14 anos aumentou 40% e 33,5% entre adolescentes de 15 a 19 anos, tudo isso em 10 anos. Em média, dois adolescentes tiram a própria vida por dia, segundo as pesquisas. Mas, em geral, o suicídio pode afetar qualquer pessoa. Os adultos também estão entre os maiores afetados, atingindo um percentual em torno de 48% na faixa etária de 35 a 55 anos.
A sobremortalidade masculina foi superior a 2,7 suicídios de homens para cada suicídio feminino. Entre eles, os meios mais utilizados são o enforcamento (36,4%) e as armas de fogo (31,8%). Já entre as mulheres, predomina o envenenamento (24,2%), seguido pelas armas de fogo e o enforcamento (21,2% cada).
Como auxiliar um potencial suicida
Em algum momento de nossas vidas, pode ser que desconfiemos de que alguém próximo esteja pensando no suicídio em decorrência de um grande sofrimento. Diante dessa situação, o sentimento de impotência pode se fazer presente, fazendo-nos acreditar que não há como intervir, uma vez que a pessoa parece já ter decidido encerrar a própria vida. Entretanto, ao contrário do que o senso comum reproduz, existem diversas maneiras de auxiliar essa pessoa.
Converse diretamente com quem está sofrendo. Um diálogo aberto, respeitoso, empático e compreensivo pode fazer a diferença. Procure saber como a pessoa está vivendo, o que tem feito ultimamente e como está se sentindo. O foco da conversa deve ser o outro, logo, não é recomendável falar muito sobre si mesmo, oferecer soluções simples para os problemas que a pessoa relatar e desmerecer o que ela sente.
Seja cauteloso na escolha das palavras e esteja disposto a ouvir
Essa conversa pode obter melhores resultados se for feita em um lugar tranquilo, sem pressa, respeitando o tempo da pessoa para se abrir. Caso ela se sinta à vontade para compartilhar o seu sofrimento, não é indicado: contestar (“Credo, isso é pecado!”), esboçar expressões de choque (“Não acredito que você tá pensando nisso!”) e reprimir (“Pra que chorar? Você sempre teve tudo do bom e do melhor!”).
É muito importante deixar que a pessoa chore e se sinta confortável. O choro trará, posteriormente, um sentimento de alívio e a sensação de esvaziamento da angústia do peito. A escuta ativa deve sempre estar presente nesses diálogos. Ela consiste em realmente ouvir e compreender o que o outro diz, não apenas esperar uma pausa para poder respondê-lo.
A importância do suporte emocional e profissional
Oferecer suporte emocional, informar sobre ajuda profissional e se mostrar à disposição, caso a pessoa queira conversar novamente, são pontos muito importantes. Se o outro falar de forma aberta sobre os seus planos de tirar a própria vida e parecer estar decidido quanto a isso, é primordial que ele não seja deixado sozinho. Se você perceber que ele não se sente à vontade para se abrir, deixe claro que você estará disponível para conversar em outras oportunidades.
Não adie, não desperdice oportunidades para mudar o rumo da vida de um amigo, parente ou colega que esteja considerando a ideia de tirar a própria vida. Nós nunca sabemos quando pode ser tarde demais. E lembre-se: você não está sozinho.
Dra. Andréa Ladislau.
Psicanalista.