Andrea Ladislau

Sadomasoquismo: relação entre dor e prazer

Venha compreender a prática sadomasoquista pela ótica da Psicanálise

Com o sucesso da trilogia “50 Tons de Cinza”, o masoquismo ganhou espaço para admiradores e curiosos falarem a respeito da relação entre a dor e o prazer. Para muitas pessoas, a menor ideia de sentir dor gera repulsa e medo, porém, para outros, a dor pode gerar prazer, principalmente dentro de uma abordagem fetichista sexual.

O chamado sadomasoquismo é exemplo deste conceito que prega a busca pelo prazer através da dor, motivada por uma relação dominado/dominador. Mas enfim, é possível atingir o prazer e o orgasmo mesmo sentindo dor? Esse prazer pela dor é saudável?

Algumas literaturas mais conservadoras classificam o sadomasoquismo como sendo um distúrbio, uma disfunção ou mesmo uma perversão sexual. No entanto, toda a complexidade da mente humana que passa pela sexualidade traz uma normatização do processo sádico x masoquismo. Afinal, a clareza de ideias e as novas formas de relação e amor exploram as diversas formas de relacionamentos no mundo. Esse tema merece nossa atenção e, hoje, nós vamos conversar sobre ele. Continue lendo e compreenda um pouco mais sobre a abordagem psicanalítica do assunto!

Sadomasoquismo: existe prazer na dor?

O fetiche sadomasoquista é uma prática relacional onde o sádico sente prazer em proporcionar a dor e o masoquista sente prazer em vivenciar essa dor. E muitas vezes, a dor aqui envolve apenas o incômodo físico, pode ser uma dor relacionada à humilhação e ao sofrimento verbal. Além disso, os casais também podem potencializar a sensação de dor através de objetos facilitadores da dominação, como algemas, correntes, fantasias, cintos, cordas, chicotes, entre outros.

Perversão ou não, muitos são os adeptos deste tipo de relacionamento. E o que está em jogo é exatamente a relação de poder e domínio entre os parceiros. Trazendo para fora do campo sexual, essa relação também pode ser percebida e vivenciada nas relações de poder e submissão no ambiente de trabalho, familiar e nas amizades, por exemplo. Deixando claro que o objeto de poder do sádico é dominar e o poder do masoquista é ser dominado, ser humilhado. Ou seja, o prazer se dá, exatamente, dentro desse ciclo de poder e submissão, onde um precisa do outro para fazer a roda girar.

Dentro da vivência sadomasoquista, porém, algumas regras precisam ser estabelecidas para tornar a relação mais saudável e permissiva para os parceiros. Ou seja, visando eliminar ou diminuir desconfortos físicos/psíquicos ou a instalação de sentimentos de inferioridade, códigos e parâmetros precisam ser definidos previamente de forma consensual. Do contrário, excessos podem vir a ocorrer e o mais comum é que um dos indivíduos demonstre, ao longo do tempo, um sofrimento além do previsto.

Sadomasoquismo e a Psicanálise

Para quem se envolve na prática sexual sadomasoquista, alguns cuidados devem ser tomados, pois a prática pode ser encarada até mesmo comouma tortura, ativando gatilhos negativos. Existem casos em que um dos parceiros dessa prática sadomasoquista, por não estar bem resolvido psicologicamente, revive dores do passado no inconsciente, talvez por ter tido pais agressivos, ou mesmo parceiros perversos ou chantagistas. Dessa forma, acaba reforçando esse comportamento ou entrando em crise emocional em função do resgate da sensação negativa que as memórias lhe imputaram.

Enfim, o sadomasoquismo, através de sua relação de poder e domínio, pode ser, sim, praticado por casais que estabelecem previamente suas regras e entram em consenso em relação a elas e, principalmente, estejam bem resolvidos psiquicamente, visto que assim conseguirão extrair dessa relação sexual o máximo de benefícios necessários, na visão e na busca do prazer de cada um de seus praticantes.

Não existe certo ou errado, mas quando qualquer atividade expõe e compromete negativamente as emoções, valores e sentimentos do outro, ela precisa imediatamente ser parada. Para ser saudável, o relacionamento precisa estar fixado no tripé: respeito, amor e prazer. O importante é ser feliz sempre.  

Dra. Andréa Ladislau/Psicanalista.