Andrea Ladislau

Preta Gil abre reflexão sobre positividade tóxica e a importância da vulnerabilidade

A cantora falou sobre sentimentos e a pressão para ignorar as emoções negativas

Lutando contra um câncer de intestino, a cantora Preta Gil, 48 anos, fez um desabafo emocionante ao se permitir ficar triste e rejeitar uma positividade tóxica que mascara seus sentimentos. Em meio ao tratamento oncológico, a filha de Gilberto Gil também precisou enfrentar uma separação, motivada por uma suposta traição do marido. Situações desafiadoras que, sem sombra de dúvidas, ativam gatilhos emocionais importantes no ser humano. Mas o que seria essa positividade tóxica mencionada pela artista?

A positividade tóxica é a prática de priorização das emoções positivas ao mesmo tempo em que se ignora ou rejeita qualquer situação negativa que o indivíduo esteja vivenciando. É olhar para o leque de emoções vividas pelas pessoas e afirmar que apenas os sentimentos felizes são aceitos em detrimento dos desagradáveis.

Quem vive dessa positividade tóxica tende a viver crendo que a vida é linda o tempo todo. Claro que é bom ter uma visão otimista da vida, mas também precisamos reconhecer a realidade: a vida é cheia de situações difíceis. Você não precisa cobrir suas emoções reais com um sorriso se, na verdade, você não está nem um pouco a fim de sorrir. Devemos nos permitir vivenciar sentimentos negativos, pois eles também trazem algum tipo de aprendizado e, em alguns casos, são até motivadores. A fala corajosa de Preta Gil ‒ “Estou triste” ‒ é a libertação desses rótulos de positividade pregados pela sociedade em geral.

Resista à pressão de ignorar as emoções negativas

A grande realidade é que a positividade tóxica é uma espécie de negação da tristeza e de outros sentimentos negativos. Uma tentativa de escapar do negativo. É impor a si mesmo, ou ao outro, uma atitude falsamente negativa, generalizando um estado feliz e otimista, seja qual for a situação, silenciando as emoções negativas. 

A positividade tóxica não nos permite enxergar que todas as emoções têm uma utilidade e nos dão informações sobre o que acontece em nosso corpo e em nosso meio. Dessa forma, não conseguimos trabalhar a resiliência, pois nos isolamos de nós mesmos e de nossas emoções. A consequência mais desastrosa quando praticamos a positividade tóxica é reprimir as emoções e, assim, somatizá-las, expressando-as através do corpo sob a forma de doenças, como a depressão ou qualquer outra doença psíquica. 

Para fugir de uma positividade tóxica, em qualquer circunstância, devemos validar nossos sentimentos, sermos fiéis e atentos ao que sentimos. Seja acolhedor consigo mesmo. A permissão abre as portas da liberdade de expressão e evita que somatizações norteiem seus dias e alimentem doenças indesejáveis.

“Não está tudo bem” é sobre isso

Ao se relacionar com outras pessoas, tenha cuidado para não ser invasivo(a), imperativo(a), julgador(a) ou senhor(a) da razão, apontando o dedo ao outro e dizendo o que se deve ou não fazer, falar, por exemplo, como a pessoa deve ou não agir; sentir ou não sentir; expressar ou não seus sentimentos.  

Cada história é única, cada um viverá em seu momento, da sua forma e dentro do seu contexto. Precisamos aprender a respeitar as crenças, as bagagens de vida, os desejos e os anseios do outro. Respeito é o mínimo que o outro merece.  

A cantora Preta Gil, ao verbalizar sua tristeza e sua dor, faz uma clara demonstração do quanto é preciso e é necessário expressar sentimentos reais. E isso nada tem a ver com o pessimismo ou vitimismo. Mas, sim, com acreditar que, por sermos seres de carne e osso, vamos sentir medo, dúvidas, inseguranças, entre outros, e está tudo bem. O principal é saber dosar e gerenciar essas emoções inevitáveis para encontrar equilíbrio e bem-estar em meio aos desafios da vida.

Lembre-se de que você não precisa cobrir suas emoções reais com um sorriso se, na verdade, você não está bem para isso. Se precisa de ajuda para lidar com suas emoções e acolher seus sentimentos, converse comigo. Agende seu horário pelo WhatsApp: (21) 97023-8669.

Dra. Andrea Ladislau  /   Psicanalista