Andrea Ladislau

Peeling de fenol: vale tudo em nome da beleza? 

Uma reflexão sobre o impacto dos procedimentos estéticos na autoestima

As reportagens da Globo e da RecordTV sobre a morte do empresário Henrique Silva Chagas deixaram muitas pessoas preocupadas com a técnica do peeling de fenol, que muitos jovens buscam para alcançar a tão sonhada “perfeição estética”.

Há tempos, sabemos de casos de jovens que sofreram sérias complicações ao tentar atingir um determinado padrão de beleza facial e corporal. Assim como outras “soluções” invasivas, o peeling de fenol apresenta muitos riscos à saúde e desconfortos aos pacientes.

A Alesp, por exemplo, já recebeu um projeto de lei para regulamentar o peeling de fenol após este caso. Especificamente, o caso de Henrique impulsionou um projeto de lei que restringe a realização do peeling de fenol a médicos.

Com toda essa repercussão, é importante, como psicanalista, analisar o impacto que procedimentos estéticos — em especial, os arriscados — têm na construção ou tentativa de favorecer a autoestima. Preparei algumas reflexões sobre isso. Acompanhe abaixo!

Por que o peeling de fenol é tão atrativo?

Boa parte das pessoas acima de 30 anos deseja rejuvenescer a pele, tornando-a mais fina, lisa e uniforme. O peeling de fenol torna-se uma proposta atrativa por devolver quase 20 anos de viço ao remover as células mortas e estimular o crescimento de novas células.

No entanto, muitos se esquecem dos processos necessários para alcançar a tão desejada pele jovem. Durante o tratamento, o indivíduo pode enfrentar uma fase em que a face apresenta aspectos semelhantes a queimaduras de terceiro grau, devido à aplicação de uma substância tóxica que alcança camadas dérmicas muito profundas, podendo até mesmo afetar o funcionamento de sistemas vitais.

É um longo processo, com intensa descamação, inchaço e sensação de queimação. Será que todo esse esforço e riscos valem a pena para a satisfação pessoal que você espera obter?

É necessário acreditar e justificar a dor para atingir algo satisfatório?

“É a dor da beleza”, disse o empresário Henrique Silva Chagas, nas imagens cedidas pela reportagem do Fantástico da Globo, no mesmo dia em que faleceu devido a complicações de um procedimento incorreto de aplicação de peeling de fenol.

A crença de que a dor é necessária para alcançar algo satisfatório está enraizada em nossa cultura, e é interessante desafiar e trazer um novo significado para esse tipo de pensamento. Desde pequenos, aprendemos a suportar a dor para nos adaptar e sobreviver na sociedade. As memórias e os ensinamentos da infância ajudam a construir o adulto de hoje. No entanto, ao longo da vida, temos diversas oportunidades de ressignificar padrões comportamentais e crenças que limitam nosso crescimento.

O esforço é importante para gerar um forte senso de realização e para sentir que no final tudo valeu a pena. Mesmo assim, será que um procedimento tão arriscado como o peeling de fenol é ideal para se enquadrar nos padrões de estética e beleza “aceitáveis”?

Aceitar quem você é, com sua cara lavada, assumindo suas rugas ou marcas de expressão, pode ser o primeiro passo para um caminho de aceitação e amor-próprio. Será que a verdadeira satisfação pessoal não reside em se aceitar plenamente, ao invés de buscar uma perfeição estética tão perigosa e dolorosa?

O que podemos aprender com esse caso de peeling de fenol?

Sentir-se e se perceber de verdade são experiências surpreendentes para o ser humano atualmente. Para alguns, o luxo está em permanecer belo, com uma estética invejável. Enquanto, para outros, o luxo é estar bem consigo mesmo, satisfeito com o trabalho, com as conexões construídas e com a vida saudável que levam.

Quando priorizamos saúde e segurança, passamos a agir de maneira racional e evitamos certos riscos que podem ter consequências fatais. Vivemos em uma sociedade que impõe padrões de beleza e sucesso, levando muitas pessoas a uma exposição extrema para serem aceitas e admiradas.

Não seria mais valioso se aceitar sem alimentar a sensação de insuficiência e imperfeição, sem competir com os outros de forma prejudicial para nossa saúde mental? Fica aqui a reflexão para que você possa estar alinhado com o que é melhor para você, e não para satisfazer uma sociedade que, muitas vezes, demanda objetivos inatingíveis, superficiais e repletos de sofrimentos desnecessários no caminho.

Quer mais orientações sobre esse assunto e começar a fortalecer a sua autoestima sem correr riscos de saúde? Preencha seus dados nesse formulário para se cadastrar na lista de espera para novos pacientes.  

Dra. Andréa Ladislau / Psicanalista