Reflexões sobre a campanha Janeiro Branco deste ano expõem a necessidade de promover a cultura da saúde e bem-estar mental
A campanha do Janeiro Branco surgiu do desejo de promover um maior engajamento da sociedade, propondo um olhar diferenciado para a saúde mental. É um convite a refletir sobre a necessidade de estabelecer a cultura da saúde mental no mundo, algo que habitualmente é negligenciado, seja por falta de conhecimento ou por tabus e preconceitos que devem ser desmistificados.
A campanha tem sua importância redobrada, principalmente por estarmos diante de uma inusitada pandemia que, sem que tenhamos gerência, alterou o eixo de nossas emoções e sentimentos. Portanto, nada mais propício que internalizar as sensações e compreender melhor os nossos gatilhos, falhas, forças, fortalecendo o nosso “eu” interior.
Por conta desse cenário, constatamos que a saúde mental virou vedete. A onda de desafios conflitantes e dores emocionais sofridas por toda a humanidade tem feito as pessoas repensarem sobre o conceito e a necessidade de cuidar mais da mente do que se cuida do corpo físico. Neste início, eu convido você a olhar atentamente para sua saúde e bem-estar mental, a começar aprendendo um pouco sobre o que significa a campanha Janeiro Branco, como surgiu e os seus objetivos. Continue lendo e saiba mais sobre a campanha que expõe a necessidade de estabelecer a cultura da saúde mental no mundo.
Surgimento da Campanha Janeiro Branco
O seu começo foi motivado pela iniciativa de um grupo de psicólogos de Minas Gerais. O seu objetivo principal é de gerar conscientização individual e coletiva sobre a urgência na discussão de temas voltados para a saúde mental. A campanha objetiva inspirar pessoas a pensarem sobre si mesmas, sobre suas escolhas, condições subjetivas e objetivas da existência.
Por ser o primeiro mês do ano, o psicólogo mineiro Leonardo Abrahão Pires Rezende, idealizou janeiro para ser o período ideal de desenvolvimento dessa campanha de conscientização. Visto que, sempre no início do ano, somos invadidos por sentimentos de ansiedade, esperança e até angústia, uma vez que, ao começar um novo ciclo, tendenciosamente, somos levados a fazer reflexões mais profundas acerca do que queremos e desejamos para os próximos meses. Estabelecemos metas, articulamos novos projetos e desenvolvemos objetivos a serem perseguidos para o novo ano que se inicia. A cor branca foi escolhida porque representa o recomeço de um novo ciclo.
A necessidade de estabelecer a cultura da saúde mental passa pelo comprometimento com a construção de uma vida mais saudável e feliz. Essa deve ser uma missão de todos os seres humanos. O autoconhecimento, a serenidade e leveza dos pensamentos, além da importância de colocar em prática novos hábitos de vida que estejam voltados para nossa psique, sem dúvida alguma, são os grandes pilares dessa campanha que iniciou em 2014.
Preconceito e desinformação sobre saúde mental
Apesar do número de pessoas em busca de atendimento psicoterápico demonstrar uma grande elevação por conta do momento pandêmico, dados estatísticos nos mostram que, infelizmente, no Brasil, falar de psicanálise ou psicoterapia ainda é uma linguagem quase que desconhecida para grande parte da população, embora os transtornos depressivos ou de ansiedade ainda serem os problemas psíquicos com maior índice de crescimento entre as doenças mentais diagnosticadas nos dias atuais.
Não é somente o preconceito que impede a valorização da campanha e um maior engajamento em torno dos cuidados com a mente. Falta uma estruturação mais eficaz sobre a cultura da saúde mental, associada a políticas públicas, sistemáticas e consistentes.
Outro fator desfavorável é a desigualdade social de nossa população, que torna impossível o investimento pessoal em serviços de saúde mental de qualidade. É necessário melhorias profundas nas Redes de Atenção Psicossocial (RAPS) e nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) espalhados por todo país, tudo para que se possa atingir o maior número de pessoas possíveis acometidas por transtornos mentais.
A importância da saúde e bem-estar mental
Sem saúde mental não existe paz, não há harmonia nas relações e nem energia para cuidar das coisas mais simples da vida, além de não haver sossego para zelar por quem amamos. Por estes e tantos outros motivos, o cuidado com a saúde mental é um investimento urgente e, sem sombra de dúvidas, uma preciosa ação para o bem-estar e equilíbrio do ser humano.
Como seres únicos e desejantes, estamos sempre em busca de sustentação e capacitação para uma vida saudável. Mas essa plenitude está muito além apenas do controle físico e orgânico, ou seja, a parte emocional também requer uma atenção especial e um olhar mais afetuoso. De forma evidente, quanto mais falamos sobre nossos sentimentos, mais conscientes ficamos de nossos vazios e das nossas forças. Afinal, quem cuida da mente, cuida da vida.
Nesse sentido, é de suma importância falar, pensar e agir em prol dos transtornos psíquicos que alteram nossa vida e geram desestruturação mental e emocional. A necessidade de estabelecer a cultura da saúde mental no mundo é urgente. Em meio a tantas turbulências cotidianas, a campanha demonstra que devemos, sim, estar comprometidos com a construção de uma vida mais feliz e saudável para nós e para quem amamos.
Como adquirir novos hábitos a favor da mente
Combater o adoecimento mental e promover um melhor gerenciamento das emoções é tarefa de todos. Se formos livres por dentro, nada nos aprisionará por fora. Mas, não se engane: corpo, mente e emoções exigem o mesmo cuidado. Não só em janeiro, mas durante todo o ano. Não negligencie seu estado emocional e nem sua saúde mental. Esteja atento a todo e qualquer sinal de sofrimento psíquico. Procure expressar mais os sentimentos, promova seu ponto de equilíbrio e autonomia encontrando a paz interior. Afinal, como define a própria OMS – Organização Mundial de Saúde –, o conceito de “saúde” é um completo estado de bem-estar físico, mental e social, não apenas a ausência de doenças ou demais enfermidades.
Portanto, comece hoje a desenvolver seu próprio Janeiro Branco, não se limite apenas a estes primeiros 31 dias do ano. Promova e busque o melhor entendimento sobre termos como: “saúde mental”, “saúde emocional”, “sentido de vida”, “qualidade de vida” e “harmonia nas relações humanas”. Desenvolva o poder de um relacionamento genuíno consigo e com um profissional de saúde mental, assim, você pode descobrir tendências naturais que levem ao crescimento e autodesenvolvimento pessoal, superando, dessa forma, problemas conflitantes, traumas ou dificuldades emocionais. Afinal, a responsabilidade pela qualidade de vida e bem-estar é uma ação individual e intransferível.
Dra. Andrea Ladislau.
Psicanalista.