Andrea Ladislau

Homens que choram e quebram as barreiras da dita masculinidade

A pressão da masculinidade estereotipada sobre os homens 

É muito comum nos depararmos com homens inseguros, frustrados e com dificuldades em lidar com suas próprias fraquezas, porque um dia acreditaram nos estereótipos e regras inventadas por uma sociedade opressora, que criou paradigmas para a masculinidade. Paradigmas que são instrumentalizados por meio de frases como: “homem não chora”; “homem que é homem não faz isso”; “chama um homem que ele coloca ordem aqui”, “comece a agir como homem”…

Cobra-se um comportamento do menino que cresceu entendendo que demonstrar os seus sentimentos é sinal de fraqueza. De forma natural, ele se coloca no lugar que acreditou sempre ser dele: o lugar da razão, enquanto a menina desempenha o papel frágil da emoção. À ela é permitido chorar, demonstrar sensibilidade, pois foi pré-estabelecido que o gênero feminino, diferente do gênero oposto, não precisa suprimir os sentimentos. Com segurança, a menina aprende, desde cedo, que são inerentes a ela características emocionais como: ser mais gentil, dedicada, emotiva e compreensiva, enquanto a masculinidade se dá por meio de comportamentos mais competitivos, agressivos, racionais e independentes.

A opressão da sociedade

Existe, na verdade, um senso comum que pactua e propaga essas distinções entre os gêneros, demonstrando que a masculinidade só se fortalece quando aprende, de forma genuína, a agir conforme o estabelecido socialmente. Temos, portanto, aqui os rótulos de uma sociedade que não permite que sejamos diferentes. Não permite que possamos desempenhar nossa individualização de sentimentos em toda sua essência. 

E quem disse que homem não pode chorar? Quem disse que ele não sofre? Não pode sofrer? Quem disse que não pode ter sensibilidade?  Essas fartas restrições à liberdade de expressão de sentimentos e emoções, certamente, tem um preço alto a se pagar. Elas causam sofrimento, geram estresse e podem levar até a diagnósticos como ansiedade, fobias sociais e dificuldades em se relacionarem afetivamente. A cobrança por uma masculinidade expressiva, onde fraquejar não é permitido e ter que ser bom em tudo é regra, faz com que transtornos psíquicos severos sejam desenvolvidos por conta de uma rigidez absurda.

Quebre paradigmas e liberte-se da pressão

Controlar as emoções e desenvolver habilidades estratégicas na quebra destes paradigmas, sem dúvida, é a chave do sucesso para que o homem consiga se libertar da pressão para ocultar o que sente. Infelizmente, temos ainda muitos relatos de homens que se sentem fracassados ao tentar expressar suas emoções. A sociedade machista e cruel não perdoa, rotula e não trata com sensibilidade. Não conseguem conceber que todos ainda sofremos com repressões ultrapassadas. Sentimentos que florescem quando nos colocamos no lugar do outro, como respeito, empatia e amor, nos fazem perceber que o sentir é universal. Chorar, rir e gritar, fazem parte de uma predisposição biológica natural. Nossas personalidades e atitudes não podem ser condicionadas pelo social, determinadas por estereótipos de gênero. Devem corresponder aos nossos mais genuínos sentimentos e vontades.

Masculinidade e sensibilidade

A masculinidade nada tem a ver com a sensibilidade. Um homem não deixa de ser o que é por ser mais ou menos sensível. Chamamos essas classificações equivocadas de masculinidade tóxica, na qual a virilidade, a agressividade, a força e o poder ditam as regras. É também um preconceito velado contra os homens, uma imposição social absurda que oprime o ser humano. Sim, antes de sermos homens e mulheres, somos humanos. Sentimos dor, alegria, felicidade, tristeza, raiva, inveja e saudade. E que bom que sentimos! Entretanto, sentir e não poder expressar é como um vulcão a ponto de explodir e entrar em erupção, prestes a espalhar a lava emocional acumulada por anos dentro do peito.

O que não se mostra, não se sente

Portanto, a grande questão aqui é que acumular emoção e sentimentos, não verbalizar, não demonstrar, tiram o brilho e a energia do indivíduo. Podem gerar sofrimentos psíquicos e fazer com que sentimentos bons sejam sucumbidos por amargura e mágoas retidas. E, quando não expressadas, dificilmente serão compreendidas também, alimentando as frustrações. Não se permita ocultar emoções. Demonstre suas fragilidades e não tenha medo. Mostre que “corre sangue nas veias”. O benefício virá através do equilíbrio emocional e da sanidade mental. Desta forma, a tendência é ter relações mais saudáveis, com mais leveza e cor.

Dra. Andrea Ladislau, psicanalista.

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