Andrea Ladislau

Conheça as consequências psicológicas da pandemia

Entenda as consequências psicológicas causadas por um período de pandemia

Ao olhar para o ano de 2020 e os primeiros meses de 2021, podemos perceber o quão surpreendente tem sido as alterações na vida de todos. A pandemia do novo coronavírus, sem dúvida alguma, paralisou o planeta, decretou o distanciamento social e o isolamento, evidenciou transtornos psicológicos, instituiu a modalidade home office e aproximou o ser humano de uma histeria coletiva que trouxe, infelizmente, a consequência psicológica devastadora do luto para bem mais perto do que gostaríamos. Heranças inevitáveis deixadas por um período de tristeza e dor que gostaríamos de apagar da memória.

O impacto psicológico do isolamento social

O isolamento social decretou que cada um deveria ficar em sua casa e fez com que o mundo passasse por algo jamais vivenciado antes. Além disso, a saúde psicológica da maioria das pessoas foi desnudada, pois está diretamente ligada aos seus direitos de posse e às suas liberdades. Ao tirar um ou os dois, as pessoas se desintegram emocionalmente. E é o que temos visto, já que estatísticas mostram um aumento considerável dos casos de transtornos mentais em função dos últimos acontecimentos. 

Avaliando melhor esses desafios internos e externos, o maior deles talvez seja a necessidade do indivíduo de ampliar a sua capacidade de adaptação. Fomos obrigados a mudar rotinas, conviver com uma nova modalidade de trabalho (home office), estar distantes de quem amamos e intensificar cuidados com a higiene, ou seja, diversas alterações que mexem profundamente com nossa psique. Naturalmente, nos sentimos mais confortáveis quando temos o controle de tudo, quando o mundo se mostra previsível. Porém, a grande questão é que a necessidade em ter o controle das situações nas mãos é um sentimento intrínseco de nossa espécie, mas tudo o que é externo e nos foge ao controle gera insegurança e medo e nos faz sentir cada vez mais vulneráveis. 

Os desafios do período pós-Covid

Certamente, muitos desses desafios fazem parte do pós-Covid. Vamos absorver adaptações que passarão a ser definitivas. Um exemplo disso é o próprio home office, em que as relações de trabalho foram alteradas e as famílias estão juntas há mais tempo do que antes, motivo pelo qual também temos enfrentado dificuldades nessas relações familiares e interpessoais, desafios diversos que desencadeiam sentimentos e sensações inesperadas. Um mundo novo, onde novos olhares são necessários para compreendermos o quanto os pequenos detalhes são importantes e o quanto o afeto faz diferença no dia a dia de cada um. 

Do ponto de vista psicanalítico, não temos boas notícias. As consequências psicológicas deixadas pelo Covid podem ser ainda mais desastrosas para pessoas que buscam equilíbrio emocional. Dados comprovam que pessoas que já apresentavam algum tipo de transtorno sofreram agravamento deste distúrbio ou agregaram novas neuroses, visto que a ansiedade e o medo trouxeram também muitas outras situações conflitantes do ponto de vista emocional como: pânico, depressão, alterações de humor, bipolaridade, fobias sociais, entre outros. O aumento no caso de transtornos de ansiedade, por exemplo, foi impressionante, seguido por uma elevação de transtornos de humor. Além disso, relatos de dificuldade com insônias e demências também foram expressivos nos últimos tempos. Assim como outras doenças crônicas, como câncer, patologias do coração, artrites e inflamações em geral, pois a tendência é que o estado de estresse intensifique a sobrecarga no corpo.

Lidando com o luto e com a proximidade do mundo virtual

O luto ficou mais íntimo do ser humano. Muitas famílias sofreram e sofrem essa dor, pois perderam pessoas queridas e próximas. Saber lidar com o luto é um outro desafio que veio com força total neste último ano. Afinal, a atmosfera de incertezas, perdas, ansiedade e medo modificam nossas emoções e podem gerar ou até agravar transtornos psicológicos severos.

Outra consequência foi a intensificação da proximidade do indivíduo com o mundo virtual provocada pelo isolamento social. A assiduidade nas redes ficou muito mais evidente, assim como a vulnerabilidade cibernética. O mundo se tornou totalmente “online”. De positivo nisso tudo, temos a inserção de pessoas que não tinham habilidades com o mundo virtual e ganharam mais intimidade com as redes. Por outro lado, esse bombardeio tecnológico sem equilíbrio pode manifestar sensações de estresse, ansiedade e muita, muita tensão. É o que chamamos de exaustão emocional. 

Desta forma, temos o risco de aumento da dependência virtual, que pode caracterizar-se por uma vontade descontrolada de acessar sem nenhuma necessidade lógica, gerando uma associação a outros problemas, como a depressão, a ansiedade social, o transtorno de déficit de atenção, o TOC (transtorno obsessivo compulsivo) ou uma ansiedade generalizada. Uma verdadeira overdose digital intensificada pela pandemia, com o intuito de suprir a sensação de perda da liberdade imposta pelo isolamento. 

As consequências nos relacionamentos interpessoais

Os relacionamentos também foram afetados: a pandemia potencializou nossas fragilidades e reforçou a dependência do outro. A sensação de perda do mundo, de uma forma inédita e forçada, obrigou-nos a repensar valores primários, diálogos, união e intimidade. Nosso modo de estar no mundo não é mais o mesmo. O medo de tudo e do externo, do que vem de fora, criou uma couraça de proteção e demarcou fronteiras nos laços sociais. Não temos ideia de como será o mundo nos próximos anos, mas fortes indícios levam a crer que o toque não será o mesmo. No entanto, temos que ter em mente que a meta para conseguir manter o equilíbrio nas relações é não enlouquecer e não enlouquecer quem está à sua volta. Sabendo, enfim, que todo relacionamento se sustenta pelos níveis de prazer acima dos níveis do desprazer e que os comportamentos destrutivos devem ser vigiados e descartados para o fortalecimento dos diálogos.

Portanto, olhamos para esse cenário de heranças negativas na busca desesperada por positividade. Afinal de contas, a resiliência é uma qualidade que todos temos. Ela é intrínseca ao ser humano. É ela quem nos capacita para a superação dos obstáculos e desafios, de qualquer natureza, ao longo da vida. Estamos sendo desafiados a nos fortalecer de maneira que a percepção de nós mesmos se torne cada vez mais forte, para que assim possamos lidar melhor com o novo. 

As consequências psicológicas neste caso são inevitáveis, no entanto, podemos nos adaptar com persistência e conhecimento de nossas habilidades e fraquezas. Fato é que, o pós-Covid, sem dúvida, pode trazer impactos nocivos ao desequilíbrio emocional e psíquico da humanidade. No entanto, colocar em prática o dom da flexibilidade e da adaptação otimista já é um bom começo para quem quer desenvolver ainda mais suas capacidades resilientes, promovendo o cuidado com a saúde física e mental frente aos impactos sofridos pelos legados da pandemia.

Dra. Andréa Ladislau

Psicanalista

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