Andrea Ladislau

Como identificar sinais de abuso sexual sofrido por uma criança?

É preciso estar atento aos sinais e saber o que fazer diante dessa suspeita

Casos de violência e abuso sexual contra crianças e adolescentes são mais comuns do que se imagina. Em maio foi celebrado o “Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes”, instituído pela Lei 9.970 em 2000, mas, apesar da lembrança da data, ainda precisamos ficar atentos aos sinais de que uma criança foi violada e sofreu um abuso sexual durante o ano inteiro.

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, estima-se que 18% das meninas e quase 8% dos meninos sofrem com isso, porém, a porcentagem só reflete os casos que foram relatados. A maioria dos casos de abuso sexual infantil ocorre dentro de casa, ambiente em que a criança deveria se sentir protegida.

É muito importante apurarmos as atenções para a escuta, o cuidado e o acolhimento dessas crianças e jovens, no sentido de evitar que possam ser marcados por traços de crueldade e perversidade. Esses atos, certamente, provocam mudanças severas em sua percepção de valores e na forma como possam lidar com suas dores e com o mundo à sua volta, possibilitando, ainda, o transporte do trauma sofrido para a vida adulta.

A violência sexual acarreta vivências traumáticas irreparáveis em suas vítimas. A começar pela grande dificuldade em manifestar verbalmente todo o sofrimento. Nesses casos, a melhor maneira de reconhecimento dos sinais do abuso é estar atento aos vestígios apresentados. Nos parágrafos abaixo, vamos refletir sobre como observar e identificar sinais de abuso em crianças. A pureza e transparência dos jovens sempre nos mostrará que algo está errado.

Quais são os sinais de alerta para abusos sexuais?

Pode ser que a criança não consiga se abrir sobre o abuso que sofreu, mas é comum que ela manifeste possíveis sinais. As crianças e adolescentes demonstram uma grande variedade de comportamentos enquanto crescem, mas é fundamental estar alerta para mudanças nas emoções e comportamentos que parecem fora do comum em seu filho.

Esteja a postos, fique atento aos possíveis indicadores, não significa que sejam incontestáveis. Por exemplo: se uma criança mais velha molha a cama, não significa que ela tenha sofrido abuso sexual. É importante deixar claro que a criança ou o adolescente devem ser levados para avaliação de um especialista, caso apresente um ou mais sinais.

Fique atento aos possíveis sinais de abuso sexual:

  • mudança de comportamento;
  • distúrbio de sono (terrores noturnos);
  • episódios de anorexia ou bulimia;
  • queda no rendimento escolar;
  • regressão a comportamentos infantis;
  • dificuldade de aprendizado e concentração;
  • isolamento social;
  • fobias;
  • enfermidades psicossomáticas;
  • proximidade excessiva do abusador;
  • agressividade;
  • introspecção;
  • dores de cabeça sem motivos patológicos;
  • crises de choro inesperadas;
  • inquietação fora do normal;
  • comportamentos hipersexualizados precocemente;
  • déficit de linguagem.

Reflexos dos abusos sofridos na infância

Crianças e adolescentes expostos a situações de violência sexual podem exteriorizar desordens psíquicas, como: depressão, pensamentos suicidas, ansiedade generalizada, bloqueio sexual e o uso abusivo de drogas. Acarretando, inclusive, prejuízos evidentes na maturidade de suas relações interpessoais e afetivas.

Além disso, a percepção da realidade e a sua capacidade de confiança em adultos, poderá apresentar sinais de fragilidade. Os reflexos do abuso sexual no desenvolvimento biopsicossocial da criança e do adolescente devem ser levados em conta por toda a sociedade, a fim de promover intervenções psicológicas urgentes ao favorecimento da superação dos traumas sofridos.

O abuso sexual praticado contra crianças e adolescentes é, sem dúvida, um fenômeno que envolve muitas variáveis e complexidades, onde o dano psíquico está relacionado a alguns fatores, como: idade do início do abuso, duração do abuso, diferença de idade entre abusado e abusador, o grau de violência, grau de parentesco entre eles e o grau de segredo intrínseco no ato violento.

Infelizmente, o impacto emocional e social do abuso sofrido é devastador na vida da vítima. A mistura de sentimentos e dúvidas marca as funções intelectuais, criativas e mentais dessa criança de uma forma sem igual.

É fundamental que haja acompanhamento e amparo psicológico, médico e social, na tentativa de resgatar a autoestima, a confiança e a capacidade de sonhar de uma criança que foi afetada pela crueldade sórdida de um adulto perverso e desumano.

O que fazer ao identificar que uma criança sofreu abuso sexual

De acordo com os dados divulgados pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, o Disque 100 (Disque Denúncia) recebe quase 50 denúncias por dia relatando crimes sexuais cometidos contra crianças e adolescentes em todo o Brasil. Infelizmente, este número representa apenas 7,5% dos casos.

Se você observou algum comportamento que evidencie abuso sexual sofrido por uma criança ou ouviu dela algum relato, denuncie! Existem diversos canais para que essa denúncia seja feita. O Disque 100 permite que ela seja feita de maneira anônima e articula a rede de proteção a nível nacional junto aos agentes locais. Já o CRAS e o CREAS são órgãos públicos de Assistência Social que trabalham com prevenção e acompanhamento, respectivamente, e podem receber as denúncias. Também é possível denunciar diretamente na delegacia.

É importante sempre incentivar a falar sobre o assunto para que construamos um mundo seguro para nossas crianças.

Dra. Andréa Ladislau

Psicanalista.

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