É preciso estar atento aos sinais e saber o que fazer diante dessa suspeita
Casos de violência e abuso sexual contra crianças e adolescentes são mais comuns do que se imagina. Em maio foi celebrado o “Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes”, instituído pela Lei 9.970 em 2000, mas, apesar da lembrança da data, ainda precisamos ficar atentos aos sinais de que uma criança foi violada e sofreu um abuso sexual durante o ano inteiro.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, estima-se que 18% das meninas e quase 8% dos meninos sofrem com isso, porém, a porcentagem só reflete os casos que foram relatados. A maioria dos casos de abuso sexual infantil ocorre dentro de casa, ambiente em que a criança deveria se sentir protegida.
É muito importante apurarmos as atenções para a escuta, o cuidado e o acolhimento dessas crianças e jovens, no sentido de evitar que possam ser marcados por traços de crueldade e perversidade. Esses atos, certamente, provocam mudanças severas em sua percepção de valores e na forma como possam lidar com suas dores e com o mundo à sua volta, possibilitando, ainda, o transporte do trauma sofrido para a vida adulta.
A violência sexual acarreta vivências traumáticas irreparáveis em suas vítimas. A começar pela grande dificuldade em manifestar verbalmente todo o sofrimento. Nesses casos, a melhor maneira de reconhecimento dos sinais do abuso é estar atento aos vestígios apresentados. Nos parágrafos abaixo, vamos refletir sobre como observar e identificar sinais de abuso em crianças. A pureza e transparência dos jovens sempre nos mostrará que algo está errado.
Quais são os sinais de alerta para abusos sexuais?
Pode ser que a criança não consiga se abrir sobre o abuso que sofreu, mas é comum que ela manifeste possíveis sinais. As crianças e adolescentes demonstram uma grande variedade de comportamentos enquanto crescem, mas é fundamental estar alerta para mudanças nas emoções e comportamentos que parecem fora do comum em seu filho.
Esteja a postos, fique atento aos possíveis indicadores, não significa que sejam incontestáveis. Por exemplo: se uma criança mais velha molha a cama, não significa que ela tenha sofrido abuso sexual. É importante deixar claro que a criança ou o adolescente devem ser levados para avaliação de um especialista, caso apresente um ou mais sinais.
Fique atento aos possíveis sinais de abuso sexual:
- mudança de comportamento;
- distúrbio de sono (terrores noturnos);
- episódios de anorexia ou bulimia;
- queda no rendimento escolar;
- regressão a comportamentos infantis;
- dificuldade de aprendizado e concentração;
- isolamento social;
- fobias;
- enfermidades psicossomáticas;
- proximidade excessiva do abusador;
- agressividade;
- introspecção;
- dores de cabeça sem motivos patológicos;
- crises de choro inesperadas;
- inquietação fora do normal;
- comportamentos hipersexualizados precocemente;
- déficit de linguagem.
Reflexos dos abusos sofridos na infância
Crianças e adolescentes expostos a situações de violência sexual podem exteriorizar desordens psíquicas, como: depressão, pensamentos suicidas, ansiedade generalizada, bloqueio sexual e o uso abusivo de drogas. Acarretando, inclusive, prejuízos evidentes na maturidade de suas relações interpessoais e afetivas.
Além disso, a percepção da realidade e a sua capacidade de confiança em adultos, poderá apresentar sinais de fragilidade. Os reflexos do abuso sexual no desenvolvimento biopsicossocial da criança e do adolescente devem ser levados em conta por toda a sociedade, a fim de promover intervenções psicológicas urgentes ao favorecimento da superação dos traumas sofridos.
O abuso sexual praticado contra crianças e adolescentes é, sem dúvida, um fenômeno que envolve muitas variáveis e complexidades, onde o dano psíquico está relacionado a alguns fatores, como: idade do início do abuso, duração do abuso, diferença de idade entre abusado e abusador, o grau de violência, grau de parentesco entre eles e o grau de segredo intrínseco no ato violento.
Infelizmente, o impacto emocional e social do abuso sofrido é devastador na vida da vítima. A mistura de sentimentos e dúvidas marca as funções intelectuais, criativas e mentais dessa criança de uma forma sem igual.
É fundamental que haja acompanhamento e amparo psicológico, médico e social, na tentativa de resgatar a autoestima, a confiança e a capacidade de sonhar de uma criança que foi afetada pela crueldade sórdida de um adulto perverso e desumano.
O que fazer ao identificar que uma criança sofreu abuso sexual
De acordo com os dados divulgados pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, o Disque 100 (Disque Denúncia) recebe quase 50 denúncias por dia relatando crimes sexuais cometidos contra crianças e adolescentes em todo o Brasil. Infelizmente, este número representa apenas 7,5% dos casos.
Se você observou algum comportamento que evidencie abuso sexual sofrido por uma criança ou ouviu dela algum relato, denuncie! Existem diversos canais para que essa denúncia seja feita. O Disque 100 permite que ela seja feita de maneira anônima e articula a rede de proteção a nível nacional junto aos agentes locais. Já o CRAS e o CREAS são órgãos públicos de Assistência Social que trabalham com prevenção e acompanhamento, respectivamente, e podem receber as denúncias. Também é possível denunciar diretamente na delegacia.
É importante sempre incentivar a falar sobre o assunto para que construamos um mundo seguro para nossas crianças.
Dra. Andréa Ladislau
Psicanalista.