É preciso compreender que a decisão de não bater ou castigar está longe de não colocar limites ou fazer as vontades da sua criança
Um vídeo viralizou nas redes sociais logo nos primeiros dias deste ano, onde um homem agride duas crianças com uma sandália, na praia de Itapuã, em Salvador. O pai dá uma sequência de chineladas em duas meninas. Depois, ele levanta uma delas e a joga no chão. Esse comportamento faz parte de uma cultura em que muitos pais ou responsáveis dizem: “No meu tempo, não tinha essa de conversa não. Os meus filhos eram educados com castigos e muitas palmadas”. Comentários como esse hoje em dia, levantam muita polêmica e geram reflexões em relação ao modo de educar as crianças. Precisamos refletir sobre a educação respeitosa por meio do diálogo ao invés de agressão e castigo para compreender melhor essas e outras questões na criação dos filhos.
A educação respeitosa ainda é um assunto muito novo no universo da educação infantil, mas afinal, devemos bater nas crianças para educar? Do ponto de vista da prática terapêutica, esse tipo de atitude pode gerar traumas ou algum outro tipo de transtorno psíquico? Uma coisa é certa: disciplinar uma criança à base de palmadas, pode normatizar a agressão e a violência.
Bater ou agredir, não importa a alegação, nunca será educar e nem pode ser uma medida corretiva saudável. Essa atitude apenas serve para gerar e alimentar emoções e sentimentos negativos na criança, além de contribuir para ensiná-la maneiras erradas de interação com o outro e com a sociedade de uma forma geral.
É preciso mudar pensamentos e hábitos para uma educação respeitosa
Sabemos que o hábito de dar palmadas e castigar está enraizado em nossa sociedade do passado. Nossos pais ou nossos avós, disseminavam uma crença limitante de que o educar estava intimamente ligado ao castigo e à punição pelos erros. A forma de disciplinar era acompanhada por violências — física e emocionais. Ao contrário da educação respeitosa, as agressões favorecem o surgimento de inúmeras dificuldades emocionais e sociais. Além de ser crime, agredir só irá fomentar uma violência que gera medo e mais violência.
Ao ser agredida, o cérebro da criança identifica sinais de perigo, insegurança e ameaça. O medo é ativado e o coração acelera. As recordações negativas começam a ser registradas e se transformam em angústia e ansiedade e, neste momento, todo e qualquer processo de aprendizado é bloqueado. Portanto, bater passa bem longe do objetivo de educar. É preciso desenvolver um olhar para a educação respeitosa como um meio de desenvolver a consciência clara de que não é porque o indivíduo foi criado com agressão que ele deverá perpetuar esse tipo de atitude ao educar seu filho. O ciclo precisa ser quebrado.
Educar de forma respeitosa é enxergar os erros como oportunidades de aprendizagem, não de sofrimento. A agressão não deve ser o caminho que ultrapassa o diálogo, é mais importante educar por meio do exemplo, visto que a criança reproduz tudo aquilo a que ela é exposta. Ou seja, se mostrarmos a agressão como forma de lidar com situações de estresse e dor, ela irá reproduzir exatamente esse comportamento e irá entender que violência é o caminho para resolver seus problemas, já que o amor também pode ser expressado através da agressão. E o mais comum é que crianças agredidas carreguem para a vida adulta uma tendência de se envolver em relacionamentos abusivos.
O diálogo como base da educação respeitosa
Uma coisa é fato: todo ser humano possui o direito de ter sua integridade física e psíquica respeitada e quando se tenta educar com violência, você não está ganhando respeito do seu filho, você só está deixando-o com medo, pois as palmadas geram medo, desconfiança e desconexão com os pais, além de causar raiva e baixar a autoestima, favorecendo traumas profundos ligados à dor de ser ferido por quem se ama.
Educar requer carinho, diálogo, acolhimento, orientação, compreensão e respeito. Os impactos negativos de uma palmada no desenvolvimento da criança são comprovados cientificamente e suas consequências psíquicas e emocionais podem ser bastante significativas. Bater para educar é agressão, e de violência o mundo já está cheio.
Enfim, não se pode espelhar ainda mais agressividade, pois as coisas só mudam através do exemplo e se somos espelhos para nossos filhos, não podemos espelhar a dor através das palmadas. Dialogue, reflita sobre a forma como deseja agir e provoque a mudança de hábitos comportamentais na educação dos pequenos. Isso fará uma diferença enorme na instalação da harmonia no lar.
Se você tem refletido sobre a forma de educar filhos e deseja maior equilíbrio e respeito, mas tem esbarrado em questões emocionais e crenças que limitam seu olhar sobre o assunto, vamos conversar! Fale comigo pelo WhatsApp (21) 97023-8669.
Dra. Andréa Ladislau / Psicanalista