Como lidar com o apelo ao consumo desenfreado das compras de Black Friday sem que isso afete a nossa saúde mental?
Todos os anos são sempre iguais: com o mês de novembro, o comércio em geral, online ou físico, superlota de consumidores desejando aproveitar as “promoções” da famosa campanha Black Friday, que antecede as compras natalinas. Hoje, eu convido você a refletir acerca da relação entre a Black Friday, o transtorno de acumulação compulsiva e o consumismo.
A Black Friday se tornou referência em vendas nos Estados Unidos na década de 1990, quando as compras após o feriado de Ação de Graças se tornaram referência de descontos em produtos e serviços diversos. Seria uma excelente oportunidade para exercer um consumo consciente, comprando apenas o que realmente é necessário, por um preço de mercado muito mais em conta, mas não tem sido sempre assim.
O risco se instaura quando o consumidor extrapola no consumismo, adquirindo além do que precisa em termos de quantidades ou necessidade. Principalmente para aqueles que já receberam o diagnóstico fechado de transtorno de acumulação compulsiva ou mesmo compulsão por compras.
Comportamentos compulsivos
O transtorno de acumulação surge com a grande dificuldade de descartar ou se desfazer de posses, o que faz com que esse indivíduo acumule objetos. Mas não confunda acumulador com colecionador, pois a grande diferença está no sofrimento envolvido na vida do acumulador ao precisar se livrar de coisas de pouco valor e na forma como ele armazena, desorganizadamente esses objetos.
O mais desesperador é que o acumulador não consegue perceber o quanto esse acúmulo é excessivo. O fato de sentir angústia quando encara a possibilidade de jogar algo fora torna essa armazenagem uma ação intencional.
Já os compradores compulsivos adquirem objetos constantemente, independente de precisarem deles ou não. Isso porque a compra em si proporciona satisfação instantânea e uma sensação de segurança ligada à ideia de posse. Junto a essa nova posse, tem-se uma coleção de objetos acumulados que, para quem tem compulsão, ganha uma conotação emocional. Dessa forma, esse indivíduo é incapaz de se livrar desses objetos adquiridos.
Assim, é gerado um círculo vicioso, em que o acumulador compra, sente satisfação, liga-se ao objeto e não pode mais deixá-lo, mas continua a experimentar um vazio emocional (resultado da substituição da interação com pessoas, pela interação com objetos) e suprir este vazio comprando novamente. Essa é a dinâmica envolvida na acumulação.
Porém, a maioria dos acumuladores não reconhece a sua condição, sente que simplesmente tem muitas coisas, gosta de comprar e possuir objetos para colecionar. A gravidade dessa situação é que todo esse movimento se transforma em uma bola de neve sem fim, que acaba absorvendo a vida útil do acumulador. Este, depois de um tempo, tem a falsa ilusão de que os seus objetos são como uma parte de si e sente que, fisicamente, não pode ficar longe deles.
Psicanálise, compulsão e a Black Friday
Não existe uma causa específica que justifique o seu surgimento, mas alguns comportamentos também podem ser resultantes de problemas mentais, como: ansiedades, trauma, depressão, transtorno de déficit de atenção ou hiperatividade, abuso de álcool, ter sido criado em uma casa desorganizada, esquizofrenia, demência, compulsão excessiva, alterações de personalidade, entre outros.
Não há problema em esperar o evento para comprar um item que se esteja precisando, só é fundamental investir os recursos com consciência e cautela para não alimentar um possível transtorno obsessivo compulsivo por compras ou acumulação.
Por fim, a Black Friday pode ser um gatilho para os consumidores compulsivos, agravando ainda mais sua condição psíquica doente. Nestes casos, é preciso ajuda profissional para evitar o consumismo e os impulsos de “ter” a todo custo, principalmente nesta época do ano.
Se precisar de ajuda para lidar com comportamentos compulsivos, buscar equilíbrio e bem-estar em sua relação com compras, vamos conversar! Fale comigo pelo WhatsApp (21) 97023-8669.
Dra. Andréa Ladislau / Psicanalista