A qualidade da relação entre pai e filho é tão importante quanto a relação materna. Negligenciar esse fato pode ter consequências desastrosas na formação da criança
Durante muito tempo, coube à mãe a responsabilidade emocional e psíquica dos filhos, sem que o pai tivesse participação ou mesmo fosse considerado além do papel de provedor da família constituída por ele. Porém, o papel do pai é fundamental no desenvolvimento e estruturação do emocional da criança e na formação da personalidade do adulto. Vai muito além do que a simples presença masculina na relação com o bebê ou colocar o seu nome na certidão.
O papel do pai no desenvolvimento da criança e a interação entre eles é um dos fatores decisivos para o fortalecimento cognitivo e social, facilitando a capacidade de aprendizagem e a integração da criança na comunidade e no universo em que ela está inserida.
Recentemente, o programa “Profissão Repórter”, da TV Globo, abordou um assunto delicado: a ausência da figura paterna. A equipe de jornalistas acompanhou diversas histórias de filhos que sofrem com a ausência do pai por todo o país. Gostaria de aproveitar que o tema esteve em destaque para convidar você a refletir um pouco sobre o papel do pai na construção da personalidade de um indivíduo.
O valor do pai na formação do indivíduo
A presença da figura paterna é um dos fatores decisivos para o desenvolvimento cognitivo social, facilitando a capacidade de aprendizagem e a integração da criança na sociedade. Pela abordagem psicanalítica, a figura paterna traz a representatividade da ordem, da tradição e da autoridade. É ele quem estabelece a primeira relação do filho que vai além da mãe.
Atualmente, a imagem do pai não é a mesma que antigamente, onde ele precisava ser considerado bravo para ter autoridade. Hoje em dia, a imagem de afeto caminha ao lado da autoridade para orientar e gerar confiança e independência, sem que o medo faça parte dessa relação.
A participação efetiva do pai na vida de um filho promove segurança, autoestima, independência e estabilidade emocional. Quando as interações entre pais e filhos são mal adaptadas ou desajustadas, os resultados poderão levar a formas de comportamento antissocial. Portanto, fica evidente que o abandono também pode gerar grandes conflitos emocionais na vida da criança, seja por separação conjugal ou abandono dos filhos.
Quando a figura paterna está ausente, as consequências negativas no desenvolvimento infantil são mais comuns. Sabemos que muitas crianças não possuem contato permanente com seus pais biológicos por diversos motivos. E que, ao longo da vida, esse papel acaba sendo desempenhado por um avô, um tio, um padrasto ou um irmão. No entanto, a figura paterna é responsável por uma boa parte da identidade desse indivíduo. Continue lendo e compreenda algumas das consequências da ausência e do abandono paterno.
Principais consequências da ausência paterna
Sabemos que a carência de amor e de afeto comprometem o desenvolvimento da criança e do adolescente. Na prática, não são poucas as crianças que apresentam conflitos no desenvolvimento psicológico e cognitivo, bem como na elaboração de distúrbios de comportamento agressivos. Isto se dá porque elas tendem a desenvolver um sentimento de insegurança e também a manifestar graves transtornos de ansiedade, já que a construção psicoafetiva apresenta deficiências.
É importante deixar claro que o pai não deve estar presente apenas fisicamente. É preciso que ele contribua para a educação e a formação dos filhos e compreenda os riscos envolvidos em não cumprir seu papel. Quando uma criança não tem quem exerça a figura paterna, pode ser que desenvolva, em algum momento, complexo de inferioridade, rejeição ou mesmo algum transtorno psíquico. Isso pode prejudicar sua autoestima, levando-a a ter problemas de insegurança com relação a si mesma no futuro, por se achar menos digna que os outros. É claro que isso não tem nada a ver com a realidade, no entanto, o sentimento persiste e precisará ser tratado com terapia, caso contrário, essa criança vai sempre se sentir inferior.
Enfim, esse assunto é muito profundo e, certamente, voltarei a propor novas reflexões sobre ele. Se você pode desempenhar o seu papel de pai, não perca a oportunidade, pois tanto o afeto paterno quanto materno representam a possibilidade do equilíbrio como regulador da capacidade da criança ou do jovem de investir no mundo real. O estímulo ao convívio entre pais e filhos, certamente, é um forte instrumento na construção e no desenvolvimento equilibrado de uma maturidade emocional saudável e livre de transtornos e traumas.
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Dra. Andréa Ladislau / Psicanalista.