Andrea Ladislau

Manipulação psicológica; gaslighting; Andrea Ladislau

Manipulação psicológica: saiba como identificar o sutil e devastador “gaslighting”

O abuso emocional que fragiliza e desestrutura suas vítimas é cada vez mais recorrente no mundo pós-pandêmico

São incontáveis as formas de abuso psicológico que um ser humano pode sofrer. Nos consultórios, temos atendido cada vez mais casos em que o abusador não deixa marcas físicas, dificultando ser analisado e penalizado. O gaslighting é um tipo de abuso no qual a vítima quase nunca tem consciência de estar sendo abusada. Na maioria das vezes, não se reconhece como vítima, uma vez que a agressão não acontece de forma clara, mas por meio de ações que camuflam a perversidade do processo em si. Podemos dizer que o abusador é um manipulador sutil e destrói, de forma silenciosa e contínua, a confiança e a autoestima de sua vítima, podendo ser de qualquer sexo. Com seu amor-próprio comprometido, a pessoa se torna mais dependente e vulnerável a relacionamentos com indivíduos tóxicos.

Agressão psicológica é crime

Insultos, agressões verbais, diminuições claras, depreciação, também são ingredientes que podem ser encontrados no gaslighting. O programa da Rede Globo, Fantástico, essa semana, abordou o tema no seu quadro sobre questões relacionadas à saúde mental e evidenciou esse tipo de violência psicológica como uma prática devastadora e que se configura em um crime.

Dificilmente o agressor pratica algum ato de violência explícita. Costuma se esconder atrás de alguém dominado pelo medo, sem energia, sem voz, confuso em suas palavras e atitudes, com uma autoestima destruída e que é levado a pensar que a causa de tudo passa por si. Porém, ainda que haja alteração da percepção de realidade da vítima, quando anula sua consciência e cria a negação da atmosfera abusiva, o abuso psicológico é configurado crime. A continuidade e sutileza do caso aliado a um ciclo de repetição gera na vítima as dúvidas que a levam a sentir-se culpada e responsável pelo que está sofrendo.

Gaslighting: Muito além dos relacionamentos afetivos

Bastante comum em relacionamentos amorosos, esse tipo de agressão psicológica faz homens e mulheres vítimas em diversos níveis de relações familiares, trabalhistas e afetivas. Pesquisas apontam que esse tipo de abuso também vem sendo praticado por mulheres, onde os homens são suas vítimas e passam pelos mesmos transtornos psicológicos. Por ser uma violência silenciosa e incessante, com graves consequências para suas vítimas, alguns efeitos de maus tratos mentais podem ser severos e, em alguns casos, até irreversíveis. O praticante desse ato, através de sua perversidade, tenta passar para o outro que ele só quer ajudar, mostrando que é digno de sua confiança.

Como identificar e ajudar quem está sofrendo esse tipo de agressão psicológica?

Em sua grande maioria, as vítimas de gaslighting estão sempre esgotadas mentalmente, tristes, inseguras e descrentes de suas verdades. Possuem muita dificuldade de se expressar e de opinar sobre qualquer assunto. A consciência do abuso não existe e o fato de ser sempre invalidada em seu ponto de vista e ideias, às vezes até de forma agressiva verbalmente, contribui para que se feche ainda mais em sua insegurança e medo. A vítima se convence que suas opiniões estão sempre equivocadas.

Neste ponto da relação, a única forma da pessoa se reconhecer como vítima é por meio de uma profunda reflexão. As emoções precisam ser colocadas em segundo plano, a fim de que, racionalmente, seja capaz de analisar as posturas e atitudes do parceiro. Sem esta reflexão, a vítima permanecerá com o olhar e entendimentos confusos, acreditando firmemente que está louco ou, até mesmo, é o único responsável por aquela situação.

Conhecer para combater abusos

Essa violência psicológica precisa ser mais divulgada e esclarecida à população, para que, com clareza, possamos identificar os seus mecanismos e suas consequências. Quanto mais orientados estivermos, mais fácil será perceber se o abuso está, de fato, ocorrendo. Ao menor sinal de agressão psicológica, deve-se buscar ajuda profissional para seu fortalecimento enquanto ser humano, sem medo da exposição ou de ser diminuído por apresentar os fatos. Resgatando, assim, sua credibilidade, autonomia, liberdade de expressão e elevação da autoestima. Trazendo a harmonia para sua rotina junto a uma maior força e consciência mental, abandonando o papel da opressão sofrida através da perversão camuflada nos atos praticados por seu agressor.

Dra. Andrea Ladislau.

Psicanalista

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