Andrea Ladislau

Pais tóxicos existem?

Entenda como reconhecer pais tóxicos e como lidar com esse conflito familiar delicado

Não há dúvidas de que existem muitos desafios na maternidade e na paternidade. Ser pai e mãe nem sempre é uma calmaria. E, quando as atitudes destes refletem prejuízo mental e emocional para os filhos, seja por uma superproteção ou até mesmo por extrapolar os limites do cuidado, podemos sim estar diante de pais tóxicos. 

Mas, afinal, como identificar pais tóxicos? Como saber lidar com esse tipo de situação? De forma instintiva, estamos sempre buscando dar aos nossos filhos o melhor e tudo o que não tivemos. Esse instinto é muito comum na maioria dos pais. No entanto, alguns responsáveis podem exagerar nessa oferta e deixar tudo nas costas dos jovens, que passam a não ter consciência desse sacrifício. 

Esse exagero de oferta acaba prejudicando o desenvolvimento dos filhos, pois os pais pensam que estão os ajudando e protegendo. No entanto, apesar da boa intenção, o efeito é contrário e alguns chegam ao extremo entre o desleixo e a superproteção.

Pais tóxicos e o seu poder de destruição

Os pequenos, incapazes de determinar contradições comportamentais, não sabem distinguir o certo do errado no que se refere aos pais. Dessa forma, acabam se tornando reféns de uma educação defasada e ardorosa. Esse descuido ou “cuidado exagerado” pode acarretar estragos danosos e até irreversíveis para a saúde mental e emocional dos filhos, fazendo, muitas vezes, com que se tornem adultos instáveis e limitados pelas dificuldades reais da vida.

Certamente, existem vários tipos de pais tóxicos, com variadas intensidades. Entretanto, o seu poder de destruição pode ser grande. Neste blogpost, identificaremos algumas abordagens de pais tóxicos que, de certo modo, podem prejudicar a vida dos filhos minando as suas chances de uma vida saudável e equilibrada. 

Superproteção, competitividade e manipulação

Em primeiro lugar, temos aqueles pais que se colocam no lugar de seus filhos e vivem por eles. Podemos chamá-los de “pais helicópteros”, pois vigiam, controlando os problemas de seus filhos, todos os seus passos e, em casos extremos, tomam as rédeas dos relacionamentos dos jovens. Mesmo que inconscientemente, eles não permitem que os filhos tenham vida própria. Provocam uma ação de despreparo no indivíduo que não irá ajudar em nada. 

Outro exemplo de pais tóxicos são aqueles que exageram no referencial de afeto. Bambam e lambem de forma excessiva os seus filhos, independente da idade. São extremamente permissivos (no sentido de fazer a criança feliz a todo custo) e não entendem que liberdade de mais pode criar adultos cada vez mais individualistas. 

Temos, também, os pais competitivos, que projetam os próprios sonhos não realizados nos filhos. Em geral, esses tipos de pais nunca param para perguntar sobre as vontades dos filhos, porque não se importam com isso. Eles são, geralmente, autoritários e exigem que  as crianças sejam as melhores em tudo. Eles não podem fracassar nunca. 

E, por fim, temos os pais tóxicos manipuladores, que oscilam entre a chantagem emocional e a agressão, prendendo os filhos em um espiral de emoções. Infelizmente, alguns chegam ao extremo de mentir, ainda que prejudiquem os filhos, tudo para ganhar algo de forma egoísta.

Consequências de uma educação tóxica

Todos esses aspectos tóxicos evidenciam e deixam claro que a forma como conduzem a educação pode ser comparada a uma implementação secreta de bombas no inconsciente destes filhos, alterando o comportamento e o emocional. Em pouco tempo, essas bombas podem explodir e gerar jovens e adultos com uma formatação negativa e bastante equivocada. 

A ação desses pais tóxicos acarreta em uma consequência extremamente danosa para os filhos, que se tornam cegos pela sombra dos pais e visualizam uma realidade distorcida, já que não conseguem resolver suas próprias questões. Assim, os jovens sofrem, gerando angústias traumatizantes, que marcam as suas atitudes e condenam os seus pensamentos e sentimentos por  estarem sempre fixados na toxicidade que receberam ao longo da vida. 

As consequências mais comuns são: as inseguranças arraigadas por crianças que crescem com medo dos pais e reproduzem isso no mundo. Elas mostram-se inseguras e frustradas diante da vida. Qualquer ação em sua direção é vista como uma ameaça e a mesma se sente incapaz de reagir contra aquilo. Também podem se tornar egoístas, acreditando que podem ser o centro do mundo. Empoderam-se pelo excesso de permissão dos pais e acabam por desenvolver a incapacidade de divisão. São muito individualistas e acreditam que o universo em si é voltado unicamente para ela.

Imponha limites e preserve o equilíbrio

Enfim, pais tóxicos contribuem negativamente, seja de forma consciente ou não, no amadurecimento dos filhos. Uma vez que promovem o egoísmo, a individualidade, a insegurança, e outras ações nocivas para a percepção adequada dos filhos em relação ao mundo, tornam-se imaturos e exigentes com o universo à sua volta. 

É muito importante que os pais entendam que existe um limite dentro do processo maternal, paternal e educacional dos filhos. Tudo isso, porque eles precisam caminhar com as próprias pernas, entendendo que nem sempre terão o que desejam, para que, no futuro, se tornem adultos responsáveis, saudáveis mentalmente e bem relacionados, isentos de traumas e danos emocionais.

Dra. Andréa Ladislau.

Psicanalista.


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