Andrea Ladislau

A relação entre fome psicológica e fome fisiológica

Entenda as diferenças entre a fome psicológica e a fome fisiológica e suas distintas atuações em nosso corpo

Podemos dizer que a fome psicológica e a fome fisiológica são bem distintas. A fome fisiológica é a necessidade natural do organismo de suprir as suas deficiências energéticas e nutricionais por meio da alimentação, que é fundamental para o bom funcionamento do corpo. Por outro lado, a fome psicológica independe da necessidade energética e nutricional do indivíduo. Ela está intimamente relacionada à vontade de comer em função de um estado emocional. No entanto, ainda há muitas dúvidas acerca desses distintos tipos de fome, e nós mesmos, muitas vezes, acabamos confundindo-as. Portanto, continue lendo e entenda como diferenciá-las e como lidar com cada uma delas.

Entenda a fome psicológica

Diferentemente da fome fisiológica, a vontade de comer, causada pela fome psicológica, aparece mesmo se você não estiver com fome. Ela surge nos momentos em que achamos que precisamos nos recompensar com comida por situações ou momentos que abalam o nosso estado emocional. Essas situações, em sua grande maioria, estão ligadas a sentimentos negativos, como, por exemplo, um dia muito cansativo no trabalho, excesso de trânsito, briga com alguém querido, desânimo em alguma etapa da vida, tristeza, vazio. Enfim, de forma consciente, para tentar ficar livre da culpa adquirida pelos excessos gastronômicos cometidos, usamos para nós mesmos a frase: “eu mereço”.

A relação entre a fome psicológica e a compulsão alimentar

Neste sentido, também podemos falar da compulsão alimentar, uma necessidade que o indivíduo sente em comer, mesmo não estando com fome. Saciado ou não, ele permanece comendo e geralmente em grandes quantidades, em pouco tempo, sem qualquer controle.

A grande verdade é que vários fatores podem ser apontados como desencadeadores destes distúrbios como: mudanças emocionais bruscas e o sentimento de desânimo e incapacidade de parar de comer quando saciado. Além disso, temos também registros de que longos períodos de dietas rígidas podem levar o indivíduo à depressão causada pela imposição da dieta no que tange às privações, trazendo, como consequência, o aumento do desejo de comer alimentos até então proibidos. 

Outro fator importante é o estresse. Algumas pessoas utilizam a compulsão alimentar como uma maneira de amenizar o estresse vivido e compensam nos alimentos suas frustrações, medos, inseguranças e traumas do passado, como abuso sexual, negligências, entre outros. 

Desenvolva uma relação saudável com a comida

Quando falamos em fome emocional e compulsão alimentar, devemos levar em conta que são distúrbios sérios, que fazem as pessoas terem uma relação errada com a comida. Come-se não por fome ou vontade, mas sim por tristeza, cansaço, medo, ansiedade. E, sendo assim, o ideal é buscar ajuda para encontrar a raiz deste problema. Comer em excesso pode trazer uma euforia momentânea. Depois, estes sentimentos negativos retornam ao inconsciente, gerando maior desgaste emocional. 

O certo é buscar a origem destes sentimentos, uma vez que a relação com a comida deve ser saudável e não de massacre psicológico. A receita para viver livre de distúrbios alimentares, como a compulsão, a bulimia, a anorexia e tantos outros que tiram o prazer saudável de uma alimentação adequada, é controlar a mente através do autoconhecimento sobre suas emoções e não se autossabotar ingerindo qualquer tipo de alimento ou grandes quantidades de comida.  

Compreenda e lide com seus gatilhos

Analisando toda essa questão pelo olhar psicológico, podemos concluir que alimentar-se em excesso, mesmo sem fome, pode estar ligado a diversos fatores emocionais e psicológicos como um gatilho. E, por meio de uma análise de comportamento, emoções e pensamentos, feita por um profissional adequado, pode-se auxiliar o indivíduo a modificar hábitos pouco saudáveis e aprender a gerenciar as suas emoções de forma positiva e benéfica para sua saúde mental e física. Ou seja, se você não reeducar os seus hábitos alimentares e não aprender a lidar com o estresse e as emoções, voltará para os hábitos antigos com o passar do tempo. 

Enfim, pessoas que possuem e vivenciam transtornos alimentares costumam enfrentar uma guerra todos os dias com o espelho. Se veem deformadas, não gostam do que veem em sua frente, nunca conseguem se sentir bem consigo mesmas. Elas não enxergam mais sua beleza interior. Existe sim um vazio enorme, pois querem ser o que não são, querem ser como as modelos das capas de revistas e comerciais. Mas a grande verdade é que o ser humano é único e deve sentir-se feliz como está e, claro, com saúde. Sem exageros. Tudo em excesso faz mal para o organismo e para a sua vida. E entenda esse “excesso” como excesso de privações ou excesso de dietas, exercícios etc. Não devemos nos sentir frustrados e nos sacrificar por padrões impostos.

E uma pergunta que devemos sempre nos fazer é: por que tenho que estar sempre agradando ao outro? Onde entra meu amor próprio? Seja feliz e aceite seu corpo sem restrições e sem a necessidade de grandes sacrifícios. No fim, quem deve te amar é você mesmo.

Dra. Andréa Ladislau

Psicanalista


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