Andrea Ladislau

Você conhece a Síndrome da Mulher Maravilha?

Entenda a Síndrome da Mulher Maravilha e seus impactos na vida das mulheres na sociedade

Quando trazemos à tona questões voltadas para o universo feminino, sempre relembramos o papel da mulher na sociedade, como são guerreiras e como estão despontando cada vez mais, seja no campo profissional ou pessoal. No entanto, não se pode fechar os olhos para os sofrimentos e dores das mulheres que afetam sua saúde mental. 

Neste blogspot, iremos falar sobre a Síndrome da Mulher Maravilha, um tipo de padrão comportamental que afeta diretamente o emocional das mulheres, causando sérios problemas de saúde, ferindo seu equilíbrio mental e, consequentemente, as suas relações ao longo da vida. 

Entendendo o papel da Mulher Maravilha na sociedade

Quando se fala em Mulher Maravilha, sempre vem à mente a imagem da heroína que resolve tudo, todas as questões. Entretanto, será que a mulher moderna nasceu para desempenhar esse papel de Mulher Maravilha na sociedade atual? E quais são os riscos que a mulher corre quando entende que precisa viver esse personagem no dia a dia? 

Vamos lá: a Mulher Maravilha é uma persona criada por um homem que idealizou a mulher perfeita. A Síndrome da Mulher Maravilha se dá quando a mulher quer dar conta de tudo e de todos, sobrecarrega-se e acaba se sentindo pressionada com suas multitarefas, arrastando consigo uma bagagem cheia de culpa e cobrança. 

Esse tipo de desvio comportamental afeta principalmente quem possui compulsão por controle. Atraída por uma forte tendência a se doar demais para qualquer mínima tarefa, a mulher pode perder sua feminilidade, sensualidade e delicadeza, acarretando sérios prejuízos para sua autoestima, atraindo aspectos negativos para suas relações pessoais e alterando severamente seu modo de enxergar o mundo. A culpa, então, complementa as sensações ruins da mulher impulsionada pela busca eterna de perfeição e autocobrança. 

A pressão externa da sociedade sobre as mulheres 

Empoderada por uma sigla imaginária de identificação dessa Mulher Maravilha, a mulher comum segue com os ombros pesados de tantas responsabilidades. Sigmund Freud, o pai da psicanálise, disse uma vez que “somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro”. Essa frase serve perfeitamente para simplificar a vida desta heroína contemporânea, que sofre com a pressão de ter que cumprir muitas tarefas ao mesmo tempo. Em muitos casos, ela vive refém das pressões externas da sociedade moderna na busca da perfeição, fazendo uso de supostos superpoderes, iludida sobre a própria capacidade e equivocada em relação às suas prioridades.

Normalmente, mulheres com a Síndrome da Mulher Maravilha caracterizam-se por apresentar uma constante sensação de vazio existencial, misturado ao cansaço e a diversos sintomas relacionados ao estresse patológico. Mulheres com essa síndrome cobram-se por um perfeccionismo exacerbado em diversas atividades em diferentes áreas da vida, sempre com a preocupação de atender às exigências externas. E, consequentemente, possuem um alto padrão de exigência em relação a quem está ao seu lado. Afinal, a Síndrome da Mulher Maravilha mantém a mulher sob estresse acentuado, robotizada, refém de si mesma e das pressões. 

Sintomas da Síndrome da Mulher Maravilha

Podemos citar alguns sintomas apresentados por Mulheres Maravilha, que variam conforme o grau de patologia. Como, por exemplo: ansiedade, alterações de memória, agressividade, dificuldade para relaxar, distúrbios do sono, exaustão, irritação, impaciência, sensação de vazio, sentimento de culpa, síndrome de pressa, sentimento de estar sempre devendo, tensões musculares, cefaleias intensas, transtornos cardiovasculares, distúrbios de compulsões, transtornos alimentares e até depressão.

Porém, reverter a Síndrome da Mulher Maravilha exige mudanças não só no pensamento da mulher que está acostumada a carregar tudo nas costas, mas também de quem está à sua volta. É preciso aceitar que somos seres humanos, portanto, longe da perfeição, e entender que o equilíbrio entre vida profissional e pessoal é de suma importância na busca do controle desta síndrome. A mulher não pode esquecer de cuidar também de si mesma, conscientizar-se de que a heroína não existe. É normal fracassar e perder, não conseguir sempre. É perfeitamente possível permitir-se não dar conta de tudo a todo tempo apenas para cumprir regras ou agradar uma sociedade esmagadora. 

A Mulher Maravilha só existe nos quadrinhos e filmes. Todos os papéis atribuídos ao sexo feminino – mãe, esposa, cuidadora do lar, profissional, filha, amiga, entre outros – precisam ser exercidos com equilíbrio. O pulo do gato é evitar a sobrecarga e trabalhar o autoconhecimento, promovendo situações que favoreçam uma mente mais leve. Como consequência, a autocobrança dará lugar à gratidão por suas conquistas reais, sem a neurose do controle do mundo, valorizando mais a si mesma através do cultivo do amor próprio.

Os problemas da busca incansável pela perfeição 

Infelizmente, a busca pela perfeição vem sempre acompanhada pela decepção e frustração. O equilíbrio emocional está diretamente relacionado ao controle da ansiedade. Por isso, é muito importante aliar organização, planejamento e autocuidado, não esquecendo também de equilibrar o sistema imunológico por meio de uma boa alimentação, em horários corretos, associada a noites de sono tranquilas para regular os hormônios, garantindo assim a vitalidade e disposição. Dessa forma, a mulher gerencia melhor a mente e as emoções,permitindo-se desviar da ansiedade de forma muito mais fácil e até prazerosa. 

Enfim, a Mulher Maravilha é apenas um personagem dos quadrinhos e filmes. Atualmente, as mulheres já vêm conquistando muitos espaços dentro dessa sociedade opressora. No entanto, não vale a pena colocar em jogo a saúde mental e física em troca do controle do mundo. Exigir de si mesma em excesso pode tornar-se patológico, provocando inúmeros prejuízos na relação consigo, além de prejudicar o processo de crescimento da mulher. A exigência por perfeição faz com que o foco seja apenas no que lhe falta e, de certa forma, instiga uma necessidade eterna de se comparar ao outro, aumentando ainda mais sua insatisfação por estar em constante busca por aprovação. 

Portanto, transformar as cobranças internas em autoaceitação, promover o autocuidado e o amor próprio, tirar um tempo para si e não perseguir o excesso de controle são ações benéficas para eliminar a Síndrome da Mulher Maravilha. Afinal, a autocobrança só é válida quando ela facilita seus objetivos, e não quando lhe causa problemas. Ser saudável é transformar sua forma de pensar, seus hábitos e promover esforços para não atrair sintomas e distúrbios nocivos à sua saúde mental. 

Dra. Andréa Ladislau

Psicanalista

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