Andrea Ladislau

O que é Transtorno de Personalidade Borderline?

Entenda os sintomas, causas e tratamentos do Transtorno de Personalidade Borderline

Nos últimos dias, muito tem se falado sobre o Transtorno de Personalidade Borderline. O distúrbio ganhou os noticiários depois que uma participante de reality show foi diagnosticada com a doença. A exposição, marcada pelo sofrimento evidente, passou a ser questionada por quem acompanha a atração. Mas você já sabe o que é esse transtorno e quais são as suas implicações?

Transtorno de Personalidade Borderline: o que é?

A personalidade Borderline corresponde a um transtorno mental que se manifesta, especialmente, por meio de demonstrações reais de instabilidade emocional muito acentuada. Muitos ainda confundem essas manifestações com o Transtorno Bipolar, mas sãos distúrbios com características distintas. Para evitar confundir, é necessário analisar as suas diferenças. 

Também chamada de transtorno de personalidade limítrofe, o transtorno de Borderline não tem cura, mas pode ser controlada com um tratamento que associa psicoterapia, medicamentos e, raramente, internação em clínica psiquiátrica, em casos mais severos. Os primeiros sintomas costumam aparecer durante a adolescência, afetando principalmente mulheres jovens, embora os homens também possam desenvolvê-la. Adultos, a partir dos 40 anos também possuem tendência a desenvolver o transtorno associado a outras neuroses.

Sintomas e características

O comportamento Borderline é um transtorno mental em que a pessoa apresenta mudanças repentinas e frequentes de humor e comportamento, alternando entre momentos de estabilidade e de descontrole. Dentro do comportamento Borderline, podemos evidenciar agressão, automutilação, comportamentos compulsivos, hostilidades, falta de moderação, comportamentos autodestrutivos e fobias severas. Um misto de sentimentos pode estimular os comportamentos Borderline, como, por exemplo, culpa, ansiedade, perda de interesse, falta de prazer pelas atividades que desenvolve, solidão e tristeza. O paciente vê sua imagem distorcida e se alimenta de uma paranoia, associada ao narcisismo e à depressão. Nesse sentido, como a instabilidade emocional é muito intensa, os borderlines costumam ter problemas em seus relacionamentos pessoais, perdendo laços afetivos, familiares e de amizade. 

Por não serem bem compreendidas e pelo fato do transtorno provocar mudanças bruscas no comportamento, em muitos casos, provocando a agressividade e o desequilíbrio emocional, essas pessoas costumam enfrentar períodos de solidão intensos. Se isolam socialmente, o que pode acabar prejudicando até a vida profissional. Muitos, por se sentirem incompreendidos e julgados, adotam comportamentos de risco, que podem levar até ao suicídio.

As diferenças entre pacientes bipolares e borderliners

A instabilidade emocional, no caso dos pacientes que apresentam esse transtorno, pode gerar alterações de humor em questão de minutos ou segundos. Diferente do paciente bipolar que alterna estados de euforia com duração de até uma semana e depressão que pode durar de dois a três meses. Fatores internos, como desequilíbrio dos neurotransmissores, são os responsáveis por essas alterações de uma pessoa portadora do Transtorno Bipolar. Já no caso do Borderline, o que alimenta essas alterações são os fatores externos, como uma possível ideia de rejeição. Ou seja, ao se sentir rejeitado ou abandonado, a agressividade e o desequilíbrio tomam conta da mente do paciente e, como ele não consegue ter o controle de suas reações, acaba por potencializar seu desconforto e demonstrar atitudes extremistas.

Estudos e pesquisas apontam que é possível que a mesma pessoa possa apresentar os dois transtornos simultaneamente, o que torna o diagnóstico ainda mais difícil, podendo aumentar as chances de complicações, como as tentativas de suicídio. Além disso, pode apresentar outros transtornos associados como, por exemplo, ansiedade, depressão, dependência de substâncias químicas e distúrbios alimentares. 

Esses pacientes sofrem muito, porque estão no limiar entre a euforia e a depressão. A sensação interna é de que estão vivendo sempre na corda bamba de emoções e que, a qualquer momento, podem sair da linha. Além disso, o estresse pode desencadear pensamentos paranoicos temporários ou sintomas dissociativos graves.

Causas e gatilhos 

E quais seriam as causas para este transtorno? Na realidade, não existe uma causa específica para quem desenvolve o Transtorno Borderline. As crises são geralmente manifestadas após conflitos emocionais difíceis ao longo da vida, que podem ser experiências como de morte, separação, ou até mesmo abuso sexual – principalmente na infância e/ou na adolescência. É muito importante que o diagnóstico do distúrbio seja realizado o quanto antes, para que a condução do tratamento culmine em um resultado satisfatório e não permita a associação de outros transtornos ou queixas maiores. O paciente com Transtorno Borderline não deseja causar mal a ninguém e nem a si mesmo, no entanto, o seu desequilíbrio emocional abrupto cega suas ações e, inconscientemente, cria uma espécie de insanidade temporária.

A importância do apoio familiar, do acompanhamento profissional e do tratamento

Portanto, em situações normais, com acompanhamento psicoterápico e orientação médica aliada a medicações específicas, é possível tratar pacientes com Transtorno de Borderline e fazer com que esse indivíduo tenha um maior suporte terapêutico no controle de seu transtorno. Enquanto que não podemos dizer o mesmo quando esse indivíduo está dentro de um reality show, onde as emoções ficam afloradas e o psicológico é colocado em teste a cada segundo. 

Além disso, a intensidade dos sentimentos e o nível dos desafios pessoais dentro de um confinamento exigem das pessoas um controle emocional muito maior. Que fique claro, enfim, que a pessoa diagnosticada com o Transtorno de Borderline precisa receber constante acompanhamento profissional, fazer a administração correta da medicação proposta para que as crises sejam menos intensas e que ocorram em espaço maior de tempo, possibilitando qualidade de vida e equilíbrio emocional.


Dra. Andrea Ladislau, psicanalista.

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