Andrea Ladislau

O setembro amarelo e as dores causadas pelo suicídio

Por que devemos falar de suicídio o ano todo, não apenas no setembro amarelo

Pensar em suicídio é, infelizmente, um processo inerente à condição humana. A dificuldade em encontrar soluções imediatas para os problemas, seja de que natureza for, faz com que o indivíduo se sinta fragilizado emocionalmente, criando a necessidade de eliminar a dor. Desta maneira, nasce a urgência em tirar a própria vida, em uma tentativa de alívio às pressões externas.

Os números do suicídio no Brasil são assustadores e refletem o que todos sabemos, mas nem sempre paramos para avaliar: nossa sociedade precisa se mobilizar para tratar as questões ligadas ao ato em si, de forma cautelosa, objetivando eliminar os tabus contidos no tema. Temos atualmente, conforme pesquisas, de 13 a 14 mortes por suicídio a cada 100 mil pessoas, das quais a grande maioria é composta por jovens entre  14 e 21 anos. Mortes das quais, 90% poderiam ser evitadas, se a oferta de ajuda de saúde mental e de acolhimento para pessoas em risco de suicídio fosse mais efetiva.

A incapacidade de lidar com conflitos emocionais

O desejo de morrer e dar fim à própria vida é um gesto de autodestruição e autoflagelo. Sintomas como a depressão, a ansiedade, o fracasso, fobias, humilhações e culpas são, certamente, potenciais sinalizadores de que algo está errado e de que sentimentos conflituosos foram despertados por gatilhos diversos. Por não conseguir apoio ou sabedoria para lidar com esses conflitos emocionais, o indivíduo entra em um processo neurótico e interno, em que não consegue ter a clareza de que tirar a vida significa uma solução imediata para um problema temporário.

Entretanto, o suicídio não está necessariamente ligado a uma doença mental. Na verdade, é um momento de desequilíbrio pelo qual a pessoa está passando e que, com o acolhimento correto, uma escuta ativa, um acompanhamento por um profissional de saúde mental qualificado, além de apoio familiar, poderá obter um desfecho menos trágico.

Esteja atento aos sinais

Muitas vezes, quem está prestes a se suicidar não demonstra isso claramente; motivo pelo qual devemos ter a sensibilidade em oferecer ajuda diante de uma crise. Saber ouvir e permitir que os sentimentos sejam externados e verbalizados, sem julgamentos ou minimizações, é a melhor saída. Em alguns momentos, a vida pode parecer nos envolver em um turbilhão de emoções, mas não podemos nos entregar à angústia e ao desespero e, assim, tirar a vida, pois toda tempestade passa e o sol volta a brilhar. 

O autoconhecimento nos fortalece e fornece subsídios para que o enfrentamento de questões psicológicas e traumáticas não afetem o nosso emocional a ponto de gerar desequilíbrios que possam vir a nos levar a cometer um ato tão conclusivo, que possam nos impedir de enxergar o mundo e suas adversidades, sem promover a habilidade de lidar com elas. 

Sugira tratamento psicológico profissional e ofereça suporte emocional

Oferecer suporte emocional e informar sobre a ajuda profissional, assim como se mostrar à disposição, são pontos importantes. Se você perceber que uma pessoa não se sente à vontade para se abrir, deixe claro que você estará disponível para conversar em outras oportunidades. 

Existem infinitos motivos para um ser humano estar desesperançado o suficiente a ponto de querer acabar com a própria vida; em geral, pode ser por luto, depressão, transtorno de ansiedade, violência sexual, abuso durante a infância, fim de relacionamento, bipolaridade, bullying, ou ainda outras questões mentais. É importante que a pessoa que está com esses pensamentos saiba que não está sozinha e que pode contar com o seu auxílio para superar esse desafio. 

Demonstre amor e empatia por ela, procurando entender o que está acontecendo sem fazer qualquer tipo de julgamento. Quem tem tendências suicidas sente-se envergonhado ou culpado por se encontrar nesta situação. Esclareça que essa pessoa não precisa sentir culpa ou ter vergonha de estar assim. 

A importância do apoio emocional e do acolhimento

A melhor arma no combate ao sentimento de isolamento (um forte fator de risco) é o apoio emocional. Algumas culturas e famílias tratam o suicídio como um tabu, evitando falar sobre o assunto. Existe um medo de que isso possa instigar pensamentos suicidas. Contudo, isso pode levar uma pessoa a nunca falar abertamente sobre o assunto. E, muitas vezes, falar sobre suicídio pode fazer um suicida em potencial repensar suas escolhas.  

Acolha, demonstre apoio, tenha empatia e fique atento aos sinais que as pessoas podem nos emitir, demonstrando que algo está errado. O equilíbrio emocional é fundamental para afastar qualquer tipo de pensamento ruim. Entretanto, sabemos que, para atingir esse equilíbrio, existe uma série de fatores envolvidos. 

Se você pode acolher, ouvir e ajudar uma pessoa em sofrimento, não deixe para o dia seguinte. Muitas vezes, temos pessoas à nossa volta que estão sorrindo por fora, mas internamente apresentam um psicológico abalado e fragilizado e já não suportam mais a dor. Elas entendem que a melhor maneira de matar o sofrimento é tirando sua própria vida, uma solução definitiva para problemas temporários. Suicídio é coisa séria, não ignore os sinais. A melhor arma no combate a este mal é o apoio emocional. 

Dra. Andrea Ladislau, psicanalista.

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